sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Amei, amém – Por Betina Pilch


Então você se foi e restou apenas o seu embora e o seu porém que nunca me convenceram, apesar de me vencer.
Prometi a mim mesma que esqueceria todas as vezes que você, com sentimentos e ações, me aqueceu. Mas esquecer não me aquecia e ao me aquecer era impossível ser uma pessoa esquecida. E entre me enlouquecer com as lembranças e morrer de frio, eu preferia ser uma enlouquecida aquecida com seus beijos e carícias guardados aqui, sob esse edredom de memórias póstumas de uma alma cadavérica que se partiu ao ver você partir. 

Partidas são essas partes de nós que resolvem ir. Perdas são essas pedras que a vida joga na gente. Vazio é esse buraco que era cheio, mas o que tinha dentro vazou. E tudo gera impacto e faz da gente um cacto aguado de lágrimas. 

O amor gerado se foi. O desamor gelado ficou. E com a minha teimosia tentei não morrer de hipotermia amorosa. E, através da prosa entre mim e o meu eu, resolvi forjar nosso amor novamente. A mente ajudou a criar. O coração ajudou a sentir. Eu fui ficando sem ar. E precisei me despedir. 
Disse adeus, amor que dói. E Deus pegou a dor, levou pro céu e deixou o amor pra me aconchegar. Então me amei, sem (ir) embora e sem porém. Me amei como quem ama pela primeira vez. E apaixonada preenchi meus nadas com amores e amém. Amores pelas cores da minha alma que resolveram refletir em tudo que eu resolvia olhar. Amém para todas as preces em que implorei para amar sem me machucar. 

E você se foi. E eu fiquei.
Livrei-me de todo mal, me amei e disse amém.

                                                                                                        

Moço, por que você não morre? – Por Betina Pilch



Moço, vem cá, me diz uma coisa... Por que você não morre?
Morre dentro do meu coração, dentro da minha mente, dentro da minha alma. Hein, moço? 
Por favor, vê se morre dentro de mim. Morre nas minhas lembranças. Porque se você não morrer, você vai continuar me matando e eu não estou mais suportando lidar com tantas sepulturas. É difícil ter que velar o próprio eu. Não quero mais esse luto, essa eterna luta, esse teu relutar. 
Dessa vez é melhor você morrer, moço. Sei que você vive tentando suicídio em mim e eu sempre te salvo. Não queria perder você. Mas toda vez que eu te salvo, você me apunhala pelas costas e me mata. Pega suas palavras e me enforca. Me asfixia com a tua indiferença. Arranca a minha cabeça fora com o teu desprezo. Então, por questão de segurança, você precisa morrer.
Morre, moço. Morre pra sempre e leva essa tua descrença contigo pro abismo dos que não voltam mais e não volte mesmo. Não ouse me assombrar. Não tente acreditar na vida depois que morrer. Por favor, moço. Deixe sua alma morta como sempre esteve. Não é justo você tentar encontrar a vida depois de tanto fugir dela. Então, se joga nos braços da morte e durma o sono eterno do silêncio e do vazio.
Morre, moço. Morre dentro de mim. Vai morrendo aos poucos, pra eu ir me acostumando com a sua ausência. Morre, vai morrendo devagarinho, até eu esquecer que você vivia aqui dentro de mim. Morre, moço. Pode morrer. Morre bem morrido pra quando eu for procurar o cadáver do meu amor eu encontrá-lo em cinzas.
Morre, moço. Morre agora. Morre já! Não quero ter que lidar com a culpa de ter que te matar.
Morre, moço. Morre logo. Por favor, chega de me maltratar.
Vê se morre, moço... Ou esteja preparado para me enterrar.

                                                                                                                

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Era uma vez, não é mais – Por Betina Pilch



Era uma vez, assim, no passado mesmo, bem clichê. Porque apesar do felizes para sempre na última página dos contos de fadas, nenhuma felicidade é presente eternamente e - às vezes - mal chega ao futuro.
Abra a página final. Perceba, "viveram". Isso quer dizer que não vivem mais. Passou. Acabou. Assim como todas as histórias de amor - que muitas vezes não se permitem nem ser estórias.
E que bom que as páginas viram e nós caminhamos. Todos os contos de fadas são tão angustiantes. O príncipe tem que salvar a princesa. E coitado desse cara que tem que dar conta da salvação. Tem que ter ação. Ser são. E pra que tanta sanidade?

Fada do céu! Você e todo mundo que me conhece sabe o quanto eu lutei, esperneei e fiz birra com a minha sina. Eu sou teimosa, tinhosa, orgulhosa e não queria uma história qualquer pra mim. Meu castelo sofria cada atentado que só os deuses sabem, mas eu nunca me prostrei diante dos destroços, sempre reergui e reconstruí tudo novamente.

É difícil não conseguir desistir. Existir. Ir.

Mas em meio a solidão de um castelo de sonhos distante da realidade, apareceu ele. Não, nada disso. Sem cavalo branco, espada ou bainha. Só ele, capaz de fazer rir. Ele - aconchego em meio ao caos. Ele - o próprio caos. Ele - solidão, ironia, pessimismo, vazio. Ele, porto seguro. Ele, alto mar.
Se apresentou como Bobo. Me chamou de Dama. Loucura. Cura. Socorro! Quem sou eu? Quem é você? Dúvidas. Vidas. Idas. E ele se escondeu. 
Cadê você? Procurei. Não achei. Chorei. Orei. Ó, rei! Por que? Volta aqui! E ele voltou. Me girou. E pelo amor dos deuses, moço! Para de me revirar. Virar. Irar. 
Prometeu de dedinho nunca mais me abandonar. 
Baita correria. E a gente ria. Até que quando olhei, o sorrir virou só ir. E ele foi indo, até não ser mais quem era.

Entre uma cambalhota e outra que demos de mãos dadas eu percebi que ele só queria brincar. E eu não queria cirandar. Talvez só andar. Não sei. Estava cansada demais. Ai.
Ele ficou, mas me partiu quando desistiu e nem sequer me comunicou que o nosso amor acabou antes mesmo de começar. Me esqueceu. Enlouqueceu. E sua loucura começou a machucar ao invés de curar. 
Cansei. Eu sei, já disse isso outra vez. Mas meu bem, veja bem, você que não soube permanecer. Nem ser. 

Era uma vez. Não é mais. Vivemos felizes. O para sempre ficou lá atrás. Talvez não tenhamos sorte nessa vida. Quem sabe tenhamos na morte. 
Mas é bom segurar a mão de alguém bem forte, porque essa Dama aqui cansou de ver como príncipe encantado quem só se prestava a ser bobo da corte.






E assim me despedi e fechei o livro - sem avisá-lo que era o 

FIM.