"As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão." - Carlos Drummond de Andrade.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Dos amores que morrem e matam – Por Betina Pilch
- Eu te amo - foi o que eu disse mergulhando em seus olhos malaquitas.
Ele sorriu timidamente, como se aquelas palavras tivessem esmagando seu corpo causando uma dor insuportável.
- Que foi? - perguntei com um sorriso desesperador, me arrependendo de ter deixado o meu coração proferir voz.
- Precisamos conversar. - ele disse por fim.
- Prefiro que fique em silêncio. - sussurrei tentando evitar o pior.
- Preciso ser sincero com você.
- Por favor, apenas minta.
- Então prefiro ficar em silêncio.
- Seu silêncio é uma mentira.
Houve uma pausa munida de um silêncio ensurdecedor.
- Não gosto de ser um mentiroso... - ele por fim falou, me tirando do calor daquele silêncio utópico e me colocando diante da frieza das suas palavras sinceras.
- Então nunca deveria ter me beijado. - Eu disse com a alma trêmula e retendo lágrimas.
- Foi sincero enquanto estávamos juntos. - Ele respondeu.
- E quando você estava longe a sinceridade ia embora, né?
- Não... Quer dizer, não sei. Talvez.
- Você disse que me ama.
- Eu fui impulsivo.
- Erro de prefixo. Re-veja sua pulsão.
- Você e seu jogo de palavras...
- Você e seu jogo com a vida...
- Eu te amava.
- Agora mudou o tempo verbal. Sabe, você é muito inconstante!
- Por isso estou indo embora.
- Gosto da sua inconstância.
- Gosto de como você gosta de mim.
- Odeio o jeito que você não gosta.
- Gosto quando você odeia.
- Então fica!
- Não posso. Não te amo mais.
E então senti meu coração ruir. Preferia que ele tivesse trocado a adição por subtração e dissesse que não me ama menos. Talvez o resultado disso tudo fosse diferente, não sei, nunca fui boa em matemática.
Busquei na minha fonte de memórias alguma lembrança que me fizesse entender onde foi que o amor acabou, mas tudo que achei foram os motivos que fizeram o amor nascer. A dor, de repente, estava me dando falta de ar e dessa vez não era crise asmática. Crise de asma bombinha resolve. Crise de alma só uma bomba relógio pode resolver.
- Por que você está fazendo isso comigo? - perguntei.
- Porque eu sou muito jovem pra me prender a alguém.
- Eu nunca te prendi.
- Você entendeu.
E essa foi sua última fala. O desprezo em sua voz matou o que restava de nós. Eu entendi. Realmente tinha entendido. Amei demais. Vivi por dois. E ele quis me fracionar. Eu não podia fazer nada. Não tinha como convencer ele a ficar. Meu coração queria implorar pra ele não ir. Queria prender ele pela primeira vez. Algemar ele em mim. Mas qualquer atitude persuasiva faria ele sentir mais desprezo e, no fundo, eu só queria que ele realmente tivesse me amado de verdade e que não esquecesse o que já sentiu um dia.
No entanto, agora, eu já não tinha mais certeza de nada e essa dúvida me colocou prostrada, sem força nenhuma. Finalmente, explodi em lágrimas.
- Só me promete uma coisa - pedi entre um soluço e outro enquanto ele me fitava sem reação - me leve com você, me guarde na melhor parte de si.
Eu deveria ter lembrado que ele nunca foi bom músico. Nunca teve afinação. Por isso ele confundiu si com dó, me abraçou e eu apenas ignorei quando ele me soltou, virou as costas e foi embora. Fingi que era ali que ele me guardaria eternamente: em seus braços onde nossos embaraços - cheio de laços - sempre foram desatados.
- Eu te amo... - foi meu último sussurro banhado em lágrimas antes de perceber que eu tinha ido embora nos braços dele e que agora estava sozinha, sem ele e sem mim, para sempre.
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