sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Não sei titular e isso já é um título


Eu não queria refletir, mas só o fato de eu não querer entrar em reflexão já é refletir sobre algo que não quero e se não quero algo já é um querer que algo não aconteça.
Eu não queria me perder, mas já estou perdida e só o fato de eu saber estar perdida já é uma forma de me encontrar. E eu me encontro e me perco em mim mesma, e ao me perder dentro de mim mesma já não encontro mais nada.
Eu me conheço bem o bastante para saber que não conheço nada sobre mim e o fato de saber o que não sei me inquieta e me atormenta.
Evitei o silêncio, porque meus silêncios sempre foram gritantes demais e esse emudecer estridente sempre me ensurdeceu. Só escuto o som de um nada cheio de vazios que fazem minha mente girar sem sair do lugar. Tenho vivido esse eterno permanecer sem nunca estar.
Céus! Para onde vou?
Já não sei o que sou, nem onde estou, tampouco o que farei a partir daqui. Apenas imploro a Deus que me guie, porque eu já não tenho nenhum sentido e não sei para onde ir. 
                                                                                                                                          - Betina Pilch.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Enfim, completa

Sempre fui sonhadora, do tipo que inspira romantismo e expira esperança. Que perde o sono, porque não é preciso dormir para sonhar.
Sempre tive os sonhos como meus melhores amigos e eles nunca me abandonaram. Muitas vezes desisti de sonhar, mas felizmente os sonhos nunca desistiram de mim.
Há quem diga que quem sonha demais acaba se frustrando, e é verdade. Muitas vezes tive a decepção e frustração como companhia. Muitas vezes me afoguei em lágrimas por achar que meu destino era negligente e esquecia de me dar um pouco de felicidade, porque para mim tal sentimento sempre estava em falta.
Mal eu sabia que o meu destino se importava muito comigo, a ponto de achar que eu não merecia metades, que eu não merecia doses homeopáticas de felicidade. Ele preferiu guardar cada dose até ter certeza que eram suficientes para curar todas as minhas enfermidades. Então finalmente o destino resolveu me dopar, me fez tomar tantas doses de felicidade que a cura foi instantânea.
Há quem diga que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem, quão pobres são tais pessoas.
O “Era uma vez” pode sim transformar-se em um “É dessa vez!”. A história pode sim virar um conto de fadas. E o “felizes para sempre” pode sim ser distante o bastante para a história ser escrita de forma tão bela e detalhada que possa futuramente ser lida como a Bíblia do Amor.
Histórias não são contos fadas pela capacidade dos personagens serem príncipes e princesas. Contos de fadas têm a ver com a capacidade dos personagens terem coragem o suficiente para rejeitarem o papel de coadjuvante, para enfim terem acesso ao enredo dos protagonistas. Está na capacidade dos personagens viverem a história intensamente e aceitarem Deus como escritor.
Achamos que nunca viveremos uma fantasia cinderelesca, mas de repente a vida samba em nossa cara e ri nos dando o livro embrulhado para presente. Quando lemos nosso nome escrito no livro nem acreditamos, achamos que logo o despertador irá tocar nos acordando do sonho. Mas aí a gente acorda e vê que dormimos abraçados com o livro e quando abrimos nosso livro nosso nome ainda está escrito lá. E então sorrimos, sorrimos porque pela primeira vez a vida sorri pra gente.
Sim, a vida é engraçada e gosta de nos torturar um pouquinho. Nos dá provas de fogo só para ter certeza se somos merecedores do que ela, com muito carinho, nos reserva.
Sim, o mundo pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos. E hoje o mundo me pertence, eu consigo abraça-lo, porque finalmente sou completa. Meus braços já não são curtos demais, porque a vida com muito amor me tornou infinita.
                                                                                                           - Betina Pilch.

Te guardei nos raios de sol

Ao acordar ela abriu as cortinas que escureciam o seu quarto e através do vidro da janela ela viu o Sol surgir por entre a neblina que embaçava todo o seu horizonte de visão. Logo tudo estaria claro, nítido e o dia ficaria lindo, mas as sombras do passado ainda habitavam sua mente deixando rastros de escuridão.
Ela ignorou as sombras e manteve seus olhos focados no presente. Encheu o pulmão de ar e suspirou balançando a cabeça de olhos fechados "Hoje não será um dia nostálgico, só hoje eu não quero sentir saudades." - Pensou ela.
Pegou o seu livro de cabeceira e apertou contra o peito, como se as palavras ali escritas fossem penetrar seu coração. "A ficção de um romance detalhado é a única coisa capaz de me manter longe da tristeza e hoje eu preciso de doses de felicidade, mesmo que utópicas." - Refletiu.
Mas as sombras começaram a se engrandecer, cresciam tão rapidamente que nem mesmo a leitura de seu romance favorito foi capaz de iluminar todo aquele cinza que habitava a sua mente. "Uma mente cinza cheia de lembranças e um coração colorido cheio de amor." - Ela riu da ironia.
O Sol entrava janela adentro iluminando toda a dimensão de seu aconchego, mas sua mente era à prova de claridade e nitidez.
O Sol, pensava ela, lembrava os olhos iluminados dele. O frio daquela manhã sendo aos poucos extinto pelos raios da estrela maior lembrava seu coração no dia em que ela havia visto ele pela primeira vez.
Sua boca de repente trouxe aos ventos aquela verdade: "Ele trouxe calor para esse deserto gelado e hoje vivo com essa seca em meu coração rachado."
Todas as lembranças cresciam, cresciam tanto que já não eram mais lembranças dentro dela, e sim ela dentro das lembranças. E de repente todo o sentimento foi exposto em seu rosto a contragosto através das lágrimas.
O dia ficaria lindo, mas não ficou. O Sol ia raiar por horas, mas não raiou. Não havia previsão de chuva, mas a tempestade despencou. Pelo menos em seu interior foi isso que ela presenciou.
Era três de Junho de 2013, "Dois anos, três meses e cinco dias" - Ela lembrou. "O relógio nunca pareceu tão vivo, lembro tão nitidamente da primeira vez que ele me beijou." - Ela lembrava tão nitidamente que quase conseguia sentir-se beijada novamente.
Ela olhou o relógio: meio-dia. O Sol estava em seu auge e tudo que ela desejava era que os raios penetrassem seu coração aquecendo-o, nem que só por alguns minutos. Aquele buraco frio que ela carregava em seu peito ainda doía e a falta que o amor vívido fazia era tão fria que às vezes ela pensava que ia morrer de hipotermia.
Lembranças vívidas de um passado mórbido era tudo que ela possuía, e a saudade que ela sentia dele era o único tom de cinza em seu dia. "Acontece que às vezes esse tom de cinza é tão escuro que consegue camuflar todo o colorido da minha vida." - Lamentou.
Mas as suas artérias bombeavam romantismo e sua alma era vestida de esperanças, mesmo que isso a machucasse e torturasse um pouco às vezes, ela gostava de amar o seu primeiro amor. Ela amava com todas as suas forças e lutava para que nenhum detalhe daqueles dias coloridos que ela viveu ao lado dele morressem, e com o tempo as lembranças se tornaram imortais de tanto que ela relembrava.
Ela piscou os olhos, olhou pela janela novamente: 17h. O Sol já estava se escondendo e ela passou o resto dos minutos ali admirando aquele encanto que brilhava e aquecia sem precisar de ninguém. "Tão solitário, mas tão feliz... Ah sol, você também me lembra ele. Vou guardar em você cada lembrança que cultivo do meu garoto e toda vez que eu te olhar, estarei olhando pra ele também. Aqueça minhas lembranças, não as deixe morrer de frio, já faz um tempo que meu coração não sabe o que é ficar febril. Aqueça minhas lembranças, assim como o abraço dele me aquecia, mantenha minhas memórias vivas assim como ele me fazia sentir viva. Tão solitário, mas tão feliz... Assim também é o meu garoto, aquele que partiu meu coração e hoje habita cada cicatriz."
O Sol enfim se pôs levando consigo todas aquelas lembranças, mas ela sabia que no dia seguinte ao amanhecer cada lembrança retornaria, dessa vez menos frias, dessa vez menos mortas, porque ela encarregou o Sol de iluminar aquela sombra que há tempos ela carregava dentro de si.
                                                                                                         - Betina Pilch.

Insuficiência Poética

Olhei para o céu e busquei pelas estrelas: Elas haviam se escondido.
Olhei para o meu coração e busquei pelo amor: Ele havia desaparecido.
Tentei encontrar todo aquele grito silenciado: Ele já estava contido.
Tentei buscar inspirações nos meus infinitos clichês: Tudo havia sumido.
Abro e fecho meus olhos em busca de uma explicação, 
mas para o que sinto agora não existe definição.
Algumas rimas soltas e pobres ficam vagando sem rumo, sem saber onde se encaixar. 
Estou perdida junto com essas palavras, já não sei quais sentimentos irão me acompanhar.
Abri as grades do meu coração, libertei todo o amor que em mim vivia. 
Tudo voou para longe e fugiu-me a poesia.
                                                                                                              - Betina Pilch.

Coleciona(dor)a de cicatrizes

Ela queria transbordar sua dor em palavras, mas já não existiam palavras dentro dela e a falta da escrita era a pior de suas ausências.
As marcas estavam voltando a incomodar e novas feridas estavam começando a ser desenhadas. Era questão de tempo para todos os espacinhos dela serem preenchidos com a dor, nenhum cantinho sairia ileso. Ela sempre fora uma colecionadora de cicatrizes.
Dizem que tudo que é bom dura pouco, então ela estava esperando pelo fim desde o começo, mas ir embora era tão difícil. Ela nunca foi boa com pontos finais, sempre dava um jeitinho de transformar em reticências, mas ela já deveria saber que não é preciso escrever o ponto final para uma história ter um fim.
Ela nunca foi boa com máscaras, sempre teve tendência à transparência e por esse motivo não conseguia ignorar suas dores, precisava enfrenta-las. Mas ela estava tão cansada de lutar, ainda mais quando precisava ser uma guerreira sozinha. Ela lutava apenas para manter seu sorriso intacto, mas ele sempre se partia.
Por mais acostumada que estivesse com o Sol deveria estar preparada para a tempestade, porque ela sabia que era questão de tempo para o céu desmoronar novamente, e seu coração sempre foi influenciado pelo clima.
Seu interior esteve ensolarado por um bom tempo, mas o cinza sempre predominava e estava retornando mais uma vez. E quando as gotas de chuva começaram a escorrer do céu, as lágrimas resolveram deslizar por sua face também.
O sorriso dela se pôs junto com o Sol e a escuridão trouxe consigo aquela velha tristeza. Ela tinha perdido as cores do seu arco-íris mais uma vez e termia não encontrar lápis de cor suficientes para (re)colorir o seu céu novamente.
                                                                                                          - Betina Pilch.

Um terror chamado amor

Sempre caminhei sozinha na contramão da vida, percorrendo uma estrada cheia de utopias. Sempre sem direção certa, desgovernada em minhas andanças, porque sou feita de contradições e inconstâncias. 
Gosto de caminhar para frente, correndo rumo a uma estrada nova, mas vez ou outra preciso voltar para trás e resgatar alguns momentos na estrada da memória. 
E voltando eu me perco e me perdendo eu me encontro. São nos contrários de mim que mora o encanto. 
Não sou feita de medidas exatas, ainda não aprendi a me dosar. Sou muito, sou tudo, é tanto Eu que preciso me doar.
Uma louca desvairada que caminha calma e desesperada. Me encho de tudo, me encho de nada, e vou transbordando meus acúmulos e vazios no decorrer da estrada. 
São nas dúvidas que encontro minhas certezas. É através do cinza que começo a pintar um arco-íris. É na dor e na solidão que encontro o amor e a paixão. Uma explosão de contradição, é assim que pulsa o meu coração.
A menina que em mim habita nunca fez sentido, mas sempre foi mestre na arte de viver sentindo. Se na faculdade da vida ela só tivesse que amar, com certeza seria uma aluna exemplar. Mas, infelizmente, na matéria de fazer as coisas darem certo ela acabou de reprovar. 
Ela já foi muito corajosa, destemida, inquieta e se os sentimentos fossem esportes radicais ela seria uma grande atleta. Mas o amor é semelhante ao bungee jump e ela já sofreu alguns acidentes. Feriu seu coração e traumatizou a sua mente. 
A menina que caminhava sozinha na contramão da vida hoje caminha perdida, com medo, querendo mudar a direção, desejando percorrer uma estrada sem curvas e sem nenhuma frustração. A matéria de amar ela desistiu de estudar e de bungee jump ela não tem mais coragem de pular. 
É que a pobre menina bebeu doses de complexidade altas demais para uma só vida e os fardos da realidade lhe causaram muitas feridas. 
Hoje ela já não se arrisca sem temor, porque a menina tem mais medo do amor do que de filme de terror.
                                                                                                             - Betina Pilch.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre aquilo que não sei sobre mim


Você não sabe nada sobre nós, apesar de saber tudo sobre mim. 
Você não entende meus sentimentos, apesar de saber tudo que sinto e senti. 
Você não sabe nada, apesar de saber tudo. 
Talvez de tanto eu camuflar, meus sentimentos tenham ficado ocultos no escuro. 
Você ouviu tudo mesmo sem escutar uma só palavra. 
Você não conhece os inquilinos do meu coração, porque eu nunca quis te cobrar nada.
Te escrevi uma carta em segredo na esperança de abafar os gritos dos meus sentimentos quando lacrasse aquele envelope e guardasse no fundo daquela caixa. Mas eles gritam e pulam, nenhuma palavra naquela carta se encaixa. 
E nada permanece para sempre apesar de nada ir embora. 
E tudo fica em minha mente, apesar de tudo mudar a cada instante, a cada hora. 
E a sua voz talvez seja minha memória favorita. 
E você talvez seja mais do que uma linda poesia. 
Começo achar que você é aquele desenho confuso que eu fazia quando criança e aos olhos adultos parecia sem sentido. Aquele desenho que só eu entendia e guardava por achar lindo.
Você não sabe o que sei sobre nós atados num laço que jamais será desfeito. 
Você não sabe que a fita que enfeita o nosso presente é o que torna ele tão perfeito.
Você não sabe nada sobre você e eu sei tanto sobre ti. 
Você não sabe nada sobre nós e eu já não sei nada sobre mim.
                                                                                                                                - Betina Pilch.