quarta-feira, 14 de agosto de 2013

As artimanhas do amor


Aquele quarto nunca pareceu tão grande. Aquele chão nunca pareceu tão vulnerável. Aquele teto nunca pareceu tão frágil. E ainda assim, ela nunca havia se sentido tão segura.
Fazia dias que sua mente devaneava sempre para o mesmo lugar, para o mesmo horizonte. A razão já não a pertencia mais. Ela já não possuía controle sobre aqueles sentimentos, eles haviam a dominado por inteiro.
Cabe à razão averiguar como usufruímos das paixões, já que a força das paixões está em iludir a alma com razões enganosas e inadequadas. Mas seu coração já havia escravizado sua consciência sem possibilidade de carta de alforria. Os brados da razão tornaram-se apenas sussurros - sussurros emudecidos pela melodia do amor. Melodia tão contagiante que desde aquele dia, no alto daquela pedra, fazia seu interior dançar com a música no “repeat”. Melodia despertada pela voz mais singular que ela já tinha ouvido. A voz da pessoa mais incrível que ela já tinha conhecido. A mais bela voz. A voz dele.
Ele que possuía o olhar mais meigo que ela já havia visto. Um olhar que brilhava. Um olhar iluminado. Olhos que pareciam estrelas, os mais bonitos de toda constelação.
Ele que possuía o sorriso mais inocente, sorriso infantil, sorriso de criança, o mais delicioso sorriso. E ela sorria todas as vezes que imaginava ele sorrir.
Ele que possuía o coração mais apaixonante do mundo. O coração que completava o dela. O encaixe perfeito. A batida mais afinada. Não restavam dúvidas, aqueles dois corações estavam destinados a se completar, eram a dupla perfeita e cada nota por eles tocada se tornava orquestra.
Tamanha era a distância que abafava o som daquela canção, mas os quilômetros entre eles desapareciam a cada palavra compartilhada, a cada sinal de importância exposto. E ela sabia que esperaria por ele, percorreria aquela distância para reencontrá-lo se preciso, faria de tudo para ouvir seu coração tocando, dançando, cantando junto ao dela no palco da vida, tendo cada respiração como plateia daquele lindo show.
Tamanha era a saudade que tentava diminuir a voz do seu coração, mas não importava. Se o coração ficasse rouco ou perdesse a voz, ambas as metades ao se reencontrarem apreciariam o silêncio e em seguida seriam plateia de duas almas cantando em uníssono.
Ela adorava imaginar o capítulo seguinte daquela história. Ela adorava sonhar com o abraço dele, o abraço onde ela depositaria todos os pesos da saudade. E, envolta nos braços dele, ela finalmente flutuaria. Nesse instante ele seria dela, só dela. E não importava  se aquele abraço duraria segundos ou um minuto, porque naquele momento ela se sentiria infinita.
Ela sonhava com o dia que os lábios dele tocariam os dela e com um beijo eles selariam todas aquelas fantasias que ela havia cultivado durante todos aqueles meses de espera.
Ela sonhava que pela primeira vez na vida seria correspondida na medida certa, sem espaços vazios ou excessos transbordando. Eles se completariam, seriam apenas um. E esse seria o capítulo mais emocionante da história.
Mas enquanto ele não vinha, enquanto seus corações faziam dueto a distância, enquanto suas almas se completavam apenas através das palavras, enquanto suas bocas se encontravam apenas nos sonhos, ela escrevia. Escrevia na esperança de ter suas mãos entrelaçadas as dele, pois ela sabia que há quilômetros de distância ele também escrevia. E nesses detalhes eles se encontravam. Nesses detalhes eles ficavam juntos. E eram esses detalhes que tornavam a saudade mais suportável. Ela escrevia na esperança de preencher a ausência e senti-lo presente, até o dia que pudessem se reencontrar, segurar a mesma caneta e juntos começarem a escrever uma história a dois.
                                                                                                                             - Betina Pilch.

Um comentário:

Samuel silva disse...

Impressionante como vc faz um belo jogo entre as palavras e as fazem encaixar perfeitamente..
parabéns pelo texto!!!