Aquele quarto nunca pareceu tão grande. Aquele chão nunca pareceu tão vulnerável. Aquele teto nunca pareceu tão frágil. E ainda assim, ela nunca havia se sentido tão segura.
Fazia dias que sua mente devaneava sempre para o mesmo
lugar, para o mesmo horizonte. A razão já não a pertencia mais. Ela já não possuía
controle sobre aqueles sentimentos, eles haviam a dominado por inteiro.
Cabe à razão averiguar como usufruímos das paixões, já que a
força das paixões está em iludir a alma com razões enganosas e inadequadas. Mas
seu coração já havia escravizado sua consciência sem possibilidade de carta de
alforria. Os brados da razão tornaram-se apenas sussurros - sussurros emudecidos
pela melodia do amor. Melodia tão contagiante que desde aquele dia, no alto
daquela pedra, fazia seu interior dançar com a música no “repeat”. Melodia despertada pela voz mais singular que ela já
tinha ouvido. A voz da pessoa mais incrível que ela já tinha conhecido. A mais
bela voz. A voz dele.
Ele que possuía o olhar mais meigo que ela já havia visto. Um
olhar que brilhava. Um olhar iluminado. Olhos que pareciam estrelas, os mais
bonitos de toda constelação.
Ele que possuía o sorriso mais inocente, sorriso infantil,
sorriso de criança, o mais delicioso sorriso. E ela sorria todas as vezes que
imaginava ele sorrir.
Ele que possuía o coração mais apaixonante do mundo. O coração
que completava o dela. O encaixe perfeito. A batida mais afinada. Não restavam
dúvidas, aqueles dois corações estavam destinados a se completar, eram a dupla
perfeita e cada nota por eles tocada se tornava orquestra.
Tamanha era a distância que abafava o som daquela canção,
mas os quilômetros entre eles desapareciam a cada palavra compartilhada, a cada
sinal de importância exposto. E ela sabia que esperaria por ele, percorreria
aquela distância para reencontrá-lo se preciso, faria de tudo para ouvir seu
coração tocando, dançando, cantando junto ao dela no palco da vida, tendo cada
respiração como plateia daquele lindo show.
Tamanha era a saudade que tentava diminuir a voz do seu
coração, mas não importava. Se o coração ficasse rouco ou perdesse a voz, ambas as metades ao se reencontrarem apreciariam o silêncio e em seguida seriam plateia
de duas almas cantando em uníssono.
Ela adorava imaginar o capítulo seguinte daquela história.
Ela adorava sonhar com o abraço dele, o abraço onde ela depositaria todos os
pesos da saudade. E, envolta nos braços dele, ela finalmente flutuaria. Nesse
instante ele seria dela, só dela. E não importava se aquele abraço duraria segundos ou um
minuto, porque naquele momento ela se sentiria infinita.
Ela sonhava com o dia que os lábios dele tocariam os dela e
com um beijo eles selariam todas aquelas fantasias que ela havia cultivado
durante todos aqueles meses de espera.
Ela sonhava que pela primeira vez na vida seria
correspondida na medida certa, sem espaços vazios ou excessos transbordando.
Eles se completariam, seriam apenas um. E esse seria o capítulo mais
emocionante da história.
Mas enquanto ele não vinha, enquanto seus corações faziam
dueto a distância, enquanto suas almas se completavam apenas através das
palavras, enquanto suas bocas se encontravam apenas nos sonhos, ela escrevia.
Escrevia na esperança de ter suas mãos entrelaçadas as dele, pois ela sabia que
há quilômetros de distância ele também escrevia. E nesses detalhes eles se encontravam.
Nesses detalhes eles ficavam juntos. E eram esses detalhes que tornavam a
saudade mais suportável. Ela escrevia na esperança de preencher a ausência e
senti-lo presente, até o dia que pudessem se reencontrar, segurar a mesma
caneta e juntos começarem a escrever uma história a dois.
- Betina Pilch.
Um comentário:
Impressionante como vc faz um belo jogo entre as palavras e as fazem encaixar perfeitamente..
parabéns pelo texto!!!
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