As primeiras horas da manhã anunciavam um colorido dilucular
que malaxava todo e qualquer coração. Cada cor narrava o paroxismo dos amores perenes,
cada flor adornava o jardim dos sentimentos solenes e a vida incitava o mundo a
recitar poesia em cada minudência, causando instantes de ardência na alma que
acolhesse os poemas que a natureza ousava recitar.
(Acalento em meio ao tormento pesar do pensar. Distração que
entibiava a constrição da alma causada pelas chamas de uma paixão em ascensão).
Mas, em minha pérfida lucidez, vazios anidridos faziam morada.
E a poesia, quase calada, sussurrava para o nada que gritava, tentando melodiar
os brados ensurdecedores que orquestravam dores desafinadas. Em meio a essa
vazia sinfonia, presenciei a mortificação incauta do sentido da vida. E,
destarte, entre uma lacuna e outra fui sendo aniquilada pelo nada que inundava os
poros da minha existência frívola.
O que é a vida se não essas mortes disfarçadas de ínfimas
anestesias?
O
que é a morte se não a queda das esdrúxulas máscaras que usamos para camuflar a
pútrida caveira que somos?
(Só sei que não sei nada sobre tudo, porque estou sob um nada ofuscada pelo escuro).
(Só sei que não sei nada sobre tudo, porque estou sob um nada ofuscada pelo escuro).
Desfaleci sob as tênues linhas do viver e sobreviver.
Cobri a vida ao invés de ser coberta por ela, vivi com
cortinas sobre janelas abertas. Fiquei enclausurada pelas ciladas que eu mesma
criei. Até deixei cinza o laranjado astro rei.
As mechas bruxuleantes da vida hesitaram em se
apagar, mas na involução da chama à faísca, as labaredas do encanto resolveram se ocultar.
(Prolixei a vida e pro lixo irei, pintei tudo de cinza e com
as cinzas me batizarei).
Me acorde quando setembro findar, porque a primavera acabou
de chegar, mas as cores desbotaram dentro de mim. E já não há recomeço, nem
meio ou belo desfecho diante do fim que escolhi esculpir aqui.
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