segunda-feira, 13 de outubro de 2014

(Vag)ando sem rumo


As mechas de luz solar dançam lá fora e deixam rastros aqui dentro de mim. O cheiro de grama cortada exalando no ar me transporta para um tempo que me faz bem e que eu tampouco sei se realmente vivi.
A trilha sonora que escolhi para esse momento deixa meu coração inquieto e, diante de tudo isso, eu sinto uma alegria angustiante que acelera meu coração, balança minha mente, estica meus lábios e pesa em meus olhos.
Sinto que esses detalhes me levam pra perto de mim. Me lembram de um eu que conheço bem, mas não reconheço como parte da minha vida.

Então, o que sou? Onde foi que me perdi? Se é que me perdi... Talvez eu nunca tenha encontrado o sentido, de fato. E pior, talvez eu nunca tenha sentido...
Balanço minha cabeça negativamente tentando espantar essas indagações e conclusões hipotéticas que me torturam, mas elas apenas se espalham se tornando ainda mais confusas.

A alegria, de repente, se apaga. Acende o medo. Cresce a dor.
Eu costumava dizer que minha mente era cinza devido as lembranças que se apagaram e que meu coração era colorido, porque as cores do amor nunca desbotavam. Mas a verdade é que meu coração só possui o vermelho escarlate do sangue que bombeia e o arco-íris ridículo cheio de cores que não ornam é pintado por minha mente que insiste em fantasiar o azul gélido inerente a minha alma - eu tampouco posso ser cinza, porque nunca conheci a dor de ser incendiada por uma chama.

O azul gélido, de súbito, começa a derreter, espalhando gotículas por minha face perdida em uma expressão de horror ao se deparar com seu reflexo descrito nas palavras que vê sendo construídas bem a sua frente.

Céus! Preferia que só o seu azul fizesse parte dessa aquarela esquizofrênica da minha vida. E quem me dera meu arco-íris fosse tão real quanto o seu... Mas a minha imensidão não passa de uma ilusão fajuta que agora sofre uma metamorfose horrível que eu preferia não ter que encarar.

Olho para dentro de mim e vejo apenas amores de papel rasgados pela realidade que nunca soube escrever.
Eu nunca amei com o coração, talvez eu nem saiba para que serve esse órgão que pulsa dentro de mim. Sempre inventei os sentimentos com a razão criativa que foi-me dada. E, com dor na alma, agora escrevo sobre as outras tantas palavras que já escrevi. Porque eu cansei de ser assim, tão teórica. Romancista de palavras quentes e coração frio.
Cansei da ausência de cores no meu mundo real. Cansei dessa traição a poesia que sempre me foi tão leal. Cansei, cansei, cansei...
E agora caminho por essa estrada, deixando para trás meu livro cheio de nada, a espera de encontrar nessa caminhada algo que me ensine a viver pela primeira vez.
                                                                                                                   - Betina Pilch.

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