Era uma vez uma floresta e um vermelho flamejante com potência para incendiá-la. Havia um vermelho que desejava ter essa potência, mas não enxergava isso em si mesmo.
E na floresta havia sol e noite. Luz e escuridão. Bastava apenas escolher o caminho para onde queria ir. O vermelho temeu a luz, mas não sabia por que. A origem do medo nunca era clara, apesar da chama que o vermelho carregava em si.
Naquele vermelho havia medos e coragens. Mas o medo camuflava tudo que pudesse destruí-lo - camuflava porque sabia que não tinha capacidade para exterminar o que ele temia.
O vermelho caminhava pela floresta. Preferiu a noite. Preferiu a escuridão. Lhe parecia mais atrativo, mais desafiador, mais misterioso. Na luz as coisas eram mais visíveis - o vermelho não quis enxergar.
Fugia de enxergar até a si mesmo. Quebrava espelhos, destruía casas, devorava os perigos - exterminava com seu fogo tudo aquilo que pudesse lhe mostrar quem era, sem perceber que agindo assim, se deparava cada vez mais consigo mesmo.
E o vermelho continuava caminhando, mesmo não enxergando nada. E havia lágrimas e sorrisos por toda aquela trilha, por todos aqueles caminhos, por todas aquelas árvores. Chorava de medo do que ia encontrar. E sorria pelo mesmo motivo. O desconhecido lhe instigava, mas também paralisava tudo. Era feito de contradições, de dicotomias. E quando nada se compreendia, sentia acalento. Explicar-se era exaustivo demais. Preferia as indagações sem respostas, afinal ouviu certa vez que problema sem solução, solucionado está.
O vermelho ficou estático. Percebeu que tinha se perdido. Não queria reconhecer sua luz. Preferiu abraçar a cegueira do que iluminar o próprio caminho. Não sabia mais para onde caminhar. Só havia árvores e mais árvores, nenhum caminho onde pudesse pisar. E naquele momento desejou ter escolhido a luz. Não escolheu. Perdeu-se a si mesmo. E as lágrimas começaram a lhe apagar. Da potência para incendiar a floresta não sabia e, caso soubesse, não o faria com medo de se culpar. Era melhor salvar tudo do que a si mesmo - pensava. Era menos pesado apagar a si mesmo, do que flamejar e destruir tudo que lhe fazia se perder. Da sua potência para se salvar não sabia, mas a destruição da qual era capaz conhecia bem.
Chorou. Chorou muito. E naquele momento não sabia que, um dia, toda chama - se não tiver como se reacender - precisa conhecer a dor de se transformar em cinza.
O vermelho foi se apagando. O que era flamejante agora era apenas fagulhas que não sabiam como se acender novamente - afinal, o vermelho nunca quis conhecer a si mesmo.
Ele escolheu a escuridão. Ele escolheu ser mera sombra de si mesmo. Ele não percebeu sua potência. E se apagou para sempre - sem chance de um dia se reconhecer.
Era uma vez um vermelho que agora não é mais.
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