Então acordei naquela primeira manhã de outono e sorri um sorriso triste. Senti uma tristeza que sorria. Uma felicidade deprimida. Uma depressão eufórica. Uma euforia mórbida. Uma morbidez vívida.
Fechei os olhos, enchi meus pulmões de ar e dentro de mim, então, só existia aquele oxigênio inspirado.
Vasculhei minha caixinha de sonhos e percebi que eles estavam secos como as folhas das árvores que caíam. Talvez fosse culpa da estação ou talvez tenha sido culpa desse meu coração asmático e árido. Não sei. Na verdade o não saber era só o que restava em minha mente.
Uma lágrima escorreu da minha alma e meu coração gemeu. Meu ser então suspirou e pro céu olhou. As nuvens escuras estavam chorando comigo e nesse momento derramaram uma gota de tinta cinza em meus olhos, desde então eu só enxergava um mundo acinzentado.
Curitiba era cinza. São Paulo era cinza. A Suíça era cinza. Até o Rio de Janeiro, de repente, acinzentou. E os amores já não tinham nenhuma cor. Aquela pequena gota de tinta fez da minha vida um imenso degradê de cinza.
O (arpoa)dor agora tinha a ver com a dor de um passado distante que jamais seria presente novamente.
Aquela música do Passenger já não me levava a sonho nenhum, mas era como aquele desperta-dor que me acordava justo quando eu não queria viver.
Curitiba estava mais cinza do que o normal e estava tão torturante quanto seus ônibus às 6h da manhã.
São Paulo continuava distante, mas agora já não existia esperança de aproximação.
E meu coração, que já transbordou e bordou o amor, apenas esvaziava um nada que matava e bordava uma dor que apagava qualquer cor que quisesse aparecer.
Olhei para frente e em meio ao cinza e sépia do outono um vento soprou bem perto de mim. Soprou e sussurrou que assim como ele o outono também iria embora. Que viria mais uma estação para esfriar os ferimentos ardentes do meu coração e depois dela viria aquela que todos chamam de Primavera.
A amante das cores, das flores, dos amores traria o sol do Arpoador novamente. A melodia apaixonante da música do Passenger. Traria vida para Curitiba. Ressuscitaria os sonhos paulistas.
Então diante dessa pequena esperança eu pisquei. Aquela tinta cinza ainda estava encalacrada no meu olhar, mas lembrei que meu sorriso ainda era branco e de repente sorri, porque eu sabia que a Primavera viria e coloriria tudo de novo.
Mas no momento só o que me restava era a lembrança dessas memórias mórbidas que pouco a pouco evaporavam. E só a solidão é presença enquanto os sonhos se ausentam e ficam longe de mim.
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