"As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão." - Carlos Drummond de Andrade.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Mais poesia do que argumentos - Por Betina Pilch
Cresci ouvindo que contos de fadas não existem. Que eu era romântica demais, sonhadora demais, tudo em demasia. Que eu precisava crescer, amadurecer, parar de acreditar que o príncipe encantado ia chegar. Cresci abraçando utopias, me entregando aos sentimentos, me machucando com a realidade. Cresci, mas permaneci pequena, sem perder minha fé, a minha liberdade.
E aí, você apareceu. Todo razão, cheio de argumentos e eu parei pra te admirar. E você me notou. E a gente se encontrou na esquina da tua racionalidade. E eu te peguei pela mão e te conduzi à estrada da minha sensibilidade. E aí nada mais fez sentido. Só sabíamos sentir.
Você disse que eu era um anjo e eu lembrei que tinha asas. Mas você também disse que não fomos feitos pra voar, por isso odiava viajar de avião. Então caminhamos de mãos dadas em terra firme, com a alma pendurada num balão.
Compreendi que as pessoas estavam certas, contos de fadas não existem. Não dá pra confiar em histórias de amor que começam com o verbo no passado. Porque amor é presente. E o nosso é cheio de laços que eu nunca vou desatar.
Príncipes encantados não existem e que bom!, porque eu não acredito em monarquia mágica. Prefiro um camponês comunista militante do amor. Existe algo mais intenso e bonito que isso?
E eu me apaixonei. E você acendeu aquele cigarro pra mim depois de uma dose de uísque compartilhada. E eu despejei minhas dúvidas embriagadas em cima de você e você respondeu que me amava. E eu quis te beijar com intensidade, porque sabia que você era o amor dos meus sonhos concretizado na minha realidade. E eu sorri. E meu sorriso nunca foi tão infinito e sincero.
Perdi a noção de tempo e espaço quando te senti fisicamente. Esqueci as fórmulas que nunca aprendi e pelos meus cálculos a gente nasceu pra dar certo. E eu não estou nem aí se sou péssima com números, tenho fé no que sinto e não preciso de respostas lógicas pra acreditar em nós.
Porque eu sou poeta. E você é músico. E não existe música sem poesia e nem poesia sem melodia. E eu já não sei o que é ser eu sem você e não quero imaginar você sem mim, porque é tão bonito ver nossos sorrisos rimando em uníssono a cada batida sincronizada dos nossos corações.
Você é minha poesia preferida. E hoje está imortalizado em cada palavra minha. Ninguém mandou você despertar em mim o verbo amar. Esqueci toda a gramática que me ensinaram, agora é só esse verbo que eu sei conjugar.
Eu amo. Tu amas. Nós amamos. E ele, ela, vós, eles e elas amam ver a gente se amar.
sábado, 18 de junho de 2016
Áspera espera – Por Betina Pilch
Ela se despiu das suas roupas, ficou nua diante do espelho, acendeu um cigarro, bebeu uma dose de uísque e vestiu suas angústias e seus medos.
Desejou tragar a morte para dentro de si, mas tudo que tinha era aquela nicotina barata que já não a anestesiava mais. Foi pra baixo do chuveiro e ficou imóvel, estática, enquanto a água escorria por todo o seu corpo. Desejou que aquela água lavasse todas as suas misérias e que todos os seus fardos escorressem pelo ralo pra nunca mais voltar.
Mas a água lavava o seu corpo e a alma permanecia intocada, imunda, pútrida. O coração continuava sangrando e cheirando a morte e nada no mundo era capaz de limpar aquela imundice toda.
Tudo doía. Cada aresta e ângulo do lado de dentro. Doía-lhe viver. Doía-lhe respirar, porque era obrigada e isso a torturava. Não lhe agradava não ter pleno domínio das coisas.
Encarou seu reflexo no vidro do box do banheiro e, ainda estática, apenas movia seus lábios e empurrava a voz para fora de si dizendo que nem tudo é esperança. Às vezes é só uma espera agonizante que nos faz perguntar se a morte não está atrasada ou se chegou adiantada demais.
Sentia-se morta em frações. Queria morrer por inteiro.
Saiu do banheiro, foi para o seu quarto ainda nua, dispensando qualquer toalha. Não queria se secar. Já se sentia seca demais por dentro.
Ela sabia que só se sentiria livre quando não pertencesse mais a esse mundo e então se libertou.
Sua alma finalmente estava tão nua quanto aquele corpo deitado na cama forjando um sorriso. Aquela alma estava livre de qualquer vestimenta feita de carne, ossos e pele. Então foi para onde nenhum vivo jamais terá acesso. E sentiu-se viva pela primeira vez.
No dia seguinte, os vivos abriram a porta do quarto e encontraram aquele corpo lavado de sangue e com um sorriso estampado na face. Sentiram angústia com aquele sorriso da morte. A felicidade dos mortos é desconfortável.
Houve alguém que disse "morreu com o mesmo sorriso que sempre viveu" e resolveram sorrir também. Porque é isso que os vivos fazem, vestem suas máscaras pra não expor a nudez da alma na face. Porque o maior atentado ao pudor é permitir que vejam suas intimidades mais internas.
Aquele corpo lavado de sangue sorria porque finalmente a alma estava excitada com a vida, os pulmões não eram mais obrigados a nada e o coração estava livre das impurezas. Não sangrava mais. Dormia. Pra sempre.
quarta-feira, 23 de março de 2016
Nota sem som é inútil
Quando eu tinha dez anos de idade e estava na quinta série, tive minha primeira discussão por algo que acredito. Era uma aula de filosofia e meu professor se referia a Deus como "aquele cara", em tom de desdém. Então, levantei minha voz indignada e pedi respeito. Meu professor - surpreso - tentou se justificar. Eu o afrontei e argumentei com ele durante bons minutos. Ele acreditava em algo. Eu acreditava em outra coisa.
Esse mesmo professor acabou me pedindo desculpas e disse que ele realmente deveria respeitar quem tinha fé como eu. Esse mesmo professor, no final da aula, me chamou num canto e pediu pra eu não me limitar a uma crença imposta e me aconselhou a ler O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder. Eu, mesmo criança, não era fechada a novas ideias e no mesmo dia enlouqueci minha mãe para comprar o livro. Então, li o tal livro com mais de 500 páginas aos dez anos de idade. Me apaixonei por filosofia e, por conseguinte, pela literatura.
Entendi a visão do professor, respeitei, no entanto não precisei mudar a minha. Não precisei. Mas quis entender a dele. Me permiti acolher o lado oposto da minha opinião. E sabe, não doeu.
Sim, desde os meus dez anos sou leitora de diversos gêneros literários. Desde a literatura chata e insuportável que a escola me obrigava a ler, como os livros que eu buscava por conta própria e que me tentavam a deixar de fazer as lições de casa para dar mais atenção a eles. Enquanto a escola me mandava ler “A ilha do tesouro”, eu ia à biblioteca e pegava pra ler todas as obras de William Shakespeare.
Mas a filosofia sempre foi um amor estonteante e volta e meia me pegava novamente. Sofia tinha encalacrado na minha alma e desde que li sua história, eu nunca mais olhei pra algo sem me perguntar “por que?”. Eu quando eu vi, já estava lendo Nietzsche.
Aos onze anos, escrevi minha primeira poesia. Olhei pra fora e vi esperança numa singela árvore. E me assustei com a frieza da filosofia. A filosofia me fazia pensar, me muniu da capacidade argumentativa, da análise do discurso, no entanto percebi que deixamos de ser humanos quando não sentimos. Então, passei a alimentar minha sensibilidade poética, sem emudecer a racionalidade incrível que a filosofia tinha me dado.
Uau! Que menina inteligente, não é mesmo?
Errado. Não era isso que eu ouvia. Nunca fui boa aluna. Ficava louca nas aulas de matemática, não suportava as aulas de Língua Portuguesa e durante as explicações dos professores eu escrevia. Escrevia textos e mais textos para um amor que eu ainda não havia sentido. Escrevia na esperança de um dia sentir. Escrevia aquelas coisas inúteis e desnecessárias e deixava de fazer as tarefas que me eram impostas.
Mas, quando o professor de história e o de filosofia entravam na sala, eu parava tudo que estava fazendo pra prestar atenção. Nunca esqueci o que foi o Tratado de Tordesilhas, Pacto Colonial, Revolução Francesa, tática de terra arrasada, quem foi Napoleão Bonaparte, Sócrates, Platão, Aristóteles - não necessariamente nessa ordem - e entre outros. Mas eu não era boa aluna.
Então, aos 15 anos, me deparei com outro professor de filosofia. Um professor que em sua primeira aula leu para a minha turma A Tabacaria de Fernando Pessoa. Poesia que até hoje é a minha preferida e, mesmo sendo absurdamente extensa, eu sei de cor e posso recitar pra quem quiser ouvir. Porque foi aí que poesia e filosofia se entrelaçaram num abraço cheios de laços que eu nunca mais desatei.
Esse professor nos falava sobre o germe da revolta. Criticava o nosso modelo de escola, educação. Incitava-nos a questionar tudo. Contava pra gente das suas épocas de adolescente, militante e poeta. Mostrava-nos a cada aula que ser jovem e não ser revolucionário era uma contradição genética.
Foi a partir desse momento que comecei a olhar pra política mais de perto. Comecei a me aprofundar em alguns assuntos, enlouquecia meus amigos com meus discursos e pensamentos histéricos e indignados. André Guilherme, meu melhor amigo na época, que o diga!
Comecei a ter coragem de mostrar para as pessoas o que eu escrevia e fui incentivada a criar um blog, esse blog, para que mais pessoas tivessem acesso aos meus escritos. Acreditei que podia escrever e que - quiçá - eu até soubesse escrever. Fui bastante ousada no meu pensamento, admito. Mas hoje percebo que a ousadia é mais do que necessária.
Meus primeiros textos falavam da minha revolta com o povo e com a política do nosso país (deem uma olhadinha nos arquivos de 2012/2013 do blog). E, nessa época, eu bati de frente com muita gente. Na minha cabeça, eu acreditava que pra mudar algo na política era necessário que eu começasse pela minha própria cidade. Comecei a acompanhar o que acontecia perto de mim e não hesitei em criticar diretamente os governantes daqui quando eu não concordava com algo.
Tenho amigos no site facebook que me adicionaram justamente porque viram um texto crítico que escrevi na página do prefeito da minha cidade. E DEIXA EU CONTAR UMA COISINHA PRA VOCÊS: Ele é do PT. E sim, ele foi o melhor prefeito que nossa cidade já teve, mas isso não quer dizer que seja perfeito. E eu apontei as imperfeições visíveis. Porque não, eu não defendo ilegalidades, eu não defendo corrupção, eu não defendo nada de errado na política. Mas eu só me posiciono diante de alguma situação quando ela é concreta. Quando há provas irrefutáveis de algo. Porque eu abomino injustiça e nunca fundamentei o que acredito na base no achismo.
Bom, após um tempo de construção intelectual, muita leitura, muito estudo, como eu disse, entendi que a poesia podia ser crítica também. Na verdade, a poesia é feita de muita filosofia. Para a minha surpresa, nessa mesma época, a professora de literatura da escola nos passou o tema do texto que teríamos que escrever para o livro da escola. Os melhores iriam para a glamourosa noite de autógrafos. O tema era “Com licença, eu vou à luta!”. E eu, tomada pelo sentimento do momento, escrevi mais uma vez sobre política e fui para a tal noite autografar os livros que acolhiam a minha poesia.
Continuei escrevendo. Nunca parei.
Então, sofri meu primeiro choque de realidade. Após nove anos estudando num colégio particular, fui obrigada a ir para a rede pública de ensino. Ouvi os mais absurdos e preconceituosos discursos. Coisas como “Nossa, que pena. Justo no terceirão? Você nunca vai passar no vestibular desse jeito”; “Você vai mesmo? Que medo por você, estudar em colégio público deve ser horrível!”; “Justo no tenente? Lá só tem bandido, morte, é perigoso. Parece até presídio”; “Meu maior medo sempre foi estudar no tenente. Que dó de você!”.
Sim, ouvi isso dos colegas que sempre estudaram comigo em colégio particular. Colegas que nunca tiveram que encarar a realidade de perto. Colegas que baseiam suas opiniões políticas no que os pais burgueses acreditam. E queria muito que eles estivessem lendo isso, porque eles precisam saber que colégio público não é filme de terror. Colégio particular é que é conto de fadas demais e cria pessoas dentro de bolhas, não permitindo que tenham acesso à realidade. Colégio público é vida real. E é maravilhoso!
Pode até ser que o colégio público não prepare os alunos para o vestibular, mas faz algo muito melhor. Colégio público prepara os alunos pra vida. Prepara os alunos para a realidade social. E eu pude experimentar um pouco disso. Eu pude sair da utopia que eu vivi durante muitos anos da minha vida.
Passei a entender a importância das greves e vi que isso não era coisa de gente que não queria trabalhar. Bem pelo contrário, era coisa gente corajosa que trabalha muito e ama o que faz, e por isso luta por melhores condições de trabalho. Entendi que há governos que TENTAM melhorar a educação, que dão ouvidos aos brados dos professores. E que há governos que nem direcionam o olhar para a realidade escolar pública e pra não serem incomodados com ladainhas chatas de vagabundos que exigem demais, dão um jeitinho de calar as vozes com bala de borracha, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e até Pitt Bulls raivosos.
Nesse colégio público, me deparei com um professor de sociologia que fazia das suas aulas um eterno debate político. O que eu gostava bastante. Em uma das suas aulas, pedi licença pra recitar um poema que eu tinha escrito e que se intitulava "Ditadura camuflada". E o meu professor de sociologia, que também dava aula na Universidade Federal do Paraná, começou a divulgar meu blog para todos os seus alunos. Porque nesse colégio, eu comecei a ser valorizada por ser boa naquilo que eu fazia.
Nesse ano, tivemos uma semana cultural no colégio com o tema TROPICALISMO. Sim, que alegria a minha! Estudamos o movimento, ouvimos Caetano, Chico, Gilberto, Elis, etc, com tanta frequência que eu não queria que aquilo acabasse. Na apresentação da minha turma, fui convidada a recitar outro poema de minha autoria para o colégio inteiro ouvir. Falei sobre opressão e liberdade. Frieza e sensibilidade. Ódio e amor.
Entendi, de verdade, a gravidade de uma ditadura. Tive náuseas. Senti pavor. E suspirei com gratidão por não ter nascido numa época de repressão.
Nesse ano, eu já não sabia se queria ser professora de Filosofia ou Sociologia, ou se queria cursar Direito.
Então, no segundo semestre, conheci minha nova professora de Língua Portuguesa. Uma professora que ensinava com tanto amor que eu me apaixonei. Dava pra ver nos seus olhos cansados, no seu humor alterado, o quanto ela lutava pra não desistir da sua profissão. É evidente que não é fácil ser professor, mas ela mostrava diariamente que valia a pena lutar pra ser.
Ela dizia que eu tinha talento com as letras. Me incentivava a continuar escrevendo. E dizia que eu daria uma boa professora de Literatura. Que seríamos colegas de profissão um dia.
Meses depois, tivemos a segunda semana cultural, a semana do teatro. E eu escrevi uma peça intitulada "Romeu e Julieta nos dias atuais". Nessa peça eu criticava a desigualdade, o preconceito, a divisão da humanidade alimentada pelo ódio e pela violência. A descomunhão que as diferenças causavam quando poderiam muito bem se unir em prol do bem estar comum. Que as diferenças quando colocadas sob a lente da intolerância, matam.
Ganhamos o festival. Fomos premiados. E houve bastante revolta das outras turmas, julgando que não éramos merecedores da vitória. Isso me deixou muito feliz também. Gostava de sentir os jovens inconformados, se expressando. Tinha medo era do conformismo. Mas me orgulho - e muito - da minha vitória.
Foi nesse colégio que decidi que queria ser professora. Que a educação era a única forma de mudar o mundo e que isso levaria milênios, mas que eu gostaria de fazer parte. De fazer a minha parte.
Nas aulas de história, estudamos a fundo o nazismo com uma professora tão incrível quanto a de Língua Portuguesa. E mais uma vez eu entendi o que era alienação. E até hoje tenho medo dela. Porque a alienação cega. A alienação prende. A alienação mata.
Hoje, eu sou graduanda de Letras. A maioria dos meus mestres são, assim como eu, defensores da esquerda. Meus colegas militam diariamente pela igualdade. Convivemos com uma pluralidade incrível de ideologias. E todos os dias eu vejo algum deles sendo insultados por pessoas que formaram sua ideologia política com base na mídia e no próprio facebook. Ou pior: que só agora, diante da histeria da população, resolveram assumir uma posição política. Que nem sabem o porquê de defenderem o que defendem, mas gritam o que pensam porque é bonito. É preciso. Todo mundo precisa estar de algum lado e se for do lado oposto ao meu, é guerra!
Estou dizendo tudo isso, porque minha caminhada pra construir o que acredito foi longa. Foi à base de muita busca pelo conhecimento. Estudei muito pra criar uma opinião própria sobre as coisas. E não, não comecei isso hoje ou ontem. Comecei isso há anos. Não discuto política agora. Discuto política há bastante tempo, basta dar uma olhada nos arquivos daqui.
E assim como eu levantei minha voz aos dez anos de idade, diante de uma turma de quinta série, pra defender o que acreditava, continuarei levantando minha voz hoje.
Podem criticar minhas opiniões, só não me julguem ignorante ou desinformada, porque isso eu nunca fui. E antes de defender um lado, eu sempre busco conhecimento sobre o outro lado também. Tentem fazer esse exercício. Acreditem, é muito bom.
Não escrevi esse texto pra defender Lula ou Dilma. Pra gritar “Sou PT!”. Escrevi tudo isso pra ME defender. Escrevi tudo isso porque estou cansada desses discursos de ódio exacerbado que não levam a lugar nenhum. Escrevi pra esclarecer que não sou ignorante, burra, imoral ou antiética. Escrevi pra tentar dizer que nunca vou acreditar que alguém é bandido só porque outro bandido está me dizendo isso.
Vão às favelas. Lá, policial é que é bandido.
Vão nas saídas dos colégios da periferia. Lá você não tem o direito de se vestir como quiser, porque uma calça caída e um moletom largo já é o suficiente pra levar revista da polícia e ser humilhado na frente dos outros.
Vão aos presídios. Lá tá cheio de bandido que roubou farinha e leite e foi condenado. Enquanto aqui fora, está cheio de advogados vestidos com o manto da moral defendendo o cara que estava dirigindo carro de luxo em alta velocidade embrigado e matou pessoas, mas não é condenado porque quem morreu é pobre e quem matou é rico.
E aí? O que, de fato, é moral? O que, de fato, são valores?
Bandido bom é bandido morto? Bandido tem que ser preso?
Mas, qual bandido?
Vamos refletir... Vamos, sobretudo, pensar antes de falar. Pode ser?
Vamos refletir... Vamos, sobretudo, pensar antes de falar. Pode ser?
Um parênteses...
Li o desabafo de uma prima minha no facebook entristecida com aqueles que zombavam a crise do país. Segundo ela, isso constrange quem está sofrendo com o desemprego e com as consequências da situação econômica atual do Brasil.
Li o desabafo de uma prima minha no facebook entristecida com aqueles que zombavam a crise do país. Segundo ela, isso constrange quem está sofrendo com o desemprego e com as consequências da situação econômica atual do Brasil.
Às vezes, caímos no erro de brincar com as coisas, como forma de afrontar o outro que brinca conosco também. Então, brindamos a crise em resposta àqueles que gritam “Impeachment já!”. Não é que não vivemos a crise. Não achamos que a crise não existe. Mas ironizamos a crise como forma de dizer “parem de usar isso como argumento pra tudo, o país já passou por situações piores”. Mas como eu disse, é um erro. Esquecemos que há pessoas que podem se ferir com a brincadeira. Brincadeira, de fato, desnecessária. E agradeço por esse desabafo, porque como eu disse, estou sempre aberta. E isso me fez refletir acerca das minhas próprias zombarias. Concluí que é preciso levar a situação mais a sério.
A situação política do país está caótica. Mas acreditem, já foi muito mais caótica do que hoje. É preciso se posicionar, sim. Mas, por favor! Não se posicionem influenciados por tudo que leem e veem por aí. Vamos, sobretudo, defender a nossa recém nascida democracia, que possui muitas falhas ainda, mas que precisa amadurecer antes de ser abortada.
Não censurem o próximo. Não sejam ditadores.
Como diria Ique: Façam amor, não façam guerra.
Grata,
Betina Pilch.quarta-feira, 2 de março de 2016
Entre palavras e paredes – Por Betina Pilch
Parede. Parede. Parede.
Pa-re-de.
Por que parede se chama parede? Essa palavra não faz sentido pra mim.
Parede. Parede. Parede.
Por que parede se chama parede e não chão?
Para com isso, Betina. Deixa eu dormir. Eu não quero pensar sobre isso. Você está fazendo as palavras perderem o sentido, dizia minha prima já irritada com a minha tagarelice no meio da madrugada.
E eu continuava pensando...
Parede. Parede. Parede.
Pa-re-de.
Sério, pensa comigo. Realmente não faz sentido.
Cala a boca! Chega! Deixa eu dormir.
Pa-re-de.
Por que parede se chama parede? Essa palavra não faz sentido pra mim.
Parede. Parede. Parede.
Por que parede se chama parede e não chão?
Para com isso, Betina. Deixa eu dormir. Eu não quero pensar sobre isso. Você está fazendo as palavras perderem o sentido, dizia minha prima já irritada com a minha tagarelice no meio da madrugada.
E eu continuava pensando...
Parede. Parede. Parede.
Pa-re-de.
Sério, pensa comigo. Realmente não faz sentido.
Cala a boca! Chega! Deixa eu dormir.
Poxa vida. Eu não estava fazendo as palavras perderem o sentido. Pelo contrário, estava buscando um sentido para elas. Mas é claro que nenhuma criança de sete anos teria paciência para acompanhar minha curiosidade. Sim, desde pequena as palavras me intrigavam, encantavam, espantavam...
Sempre fui uma grande esquizofrênica das letras. Elas ecoavam no meu pensamento com sua sonoridade singular e sua grafia ficava dançando na minha mente até eu ficar tonta. Quando as letrinhas resolviam escolher um par e formar silabas para, depois, fazerem amor e dar a luz às palavras, eu ficava inquieta. As palavras tinham muito poder. Eram um conjunto de letras de mãos dadas que formavam sons e imagens. Sim, imagens. Eram as imagens que me intrigavam. Quem é que determinou que aquela família de letrinhas formariam a imagem de algo?
Por que a palavra parede dava luz à imagem de algo duro e frio que dividia os cômodos da minha casa? Antes de parede ser parede era o que?
Sempre fui uma grande esquizofrênica das letras. Elas ecoavam no meu pensamento com sua sonoridade singular e sua grafia ficava dançando na minha mente até eu ficar tonta. Quando as letrinhas resolviam escolher um par e formar silabas para, depois, fazerem amor e dar a luz às palavras, eu ficava inquieta. As palavras tinham muito poder. Eram um conjunto de letras de mãos dadas que formavam sons e imagens. Sim, imagens. Eram as imagens que me intrigavam. Quem é que determinou que aquela família de letrinhas formariam a imagem de algo?
Por que a palavra parede dava luz à imagem de algo duro e frio que dividia os cômodos da minha casa? Antes de parede ser parede era o que?
Mãe, por que parede se chama parede e não chão?
Não sei, filha. As palavras são o que são.
Não sei, filha. As palavras são o que são.
Ah, não! Então alguém saiu por aí dando nome para as coisas, sem pensar num sentido pra isso?
Aquilo me aborrecia. Me aborrecia tanto que eu precisava dar uns tapinhas na minha cabeça e implorar para pensar em outra coisa. Mas não adiantava. Bastava um pouco de silêncio e tédio para as letrinhas voltarem a dançar dentro da minha cabeça. Peguei certa birra da palavra parede. Ela nunca fez sentido pra mim. Eu batia nela e perguntava "por que você se chama parede?" e logo em seguida ria ironicamente pensando, você não fala, por que estou falando com você?
Aquilo me aborrecia. Me aborrecia tanto que eu precisava dar uns tapinhas na minha cabeça e implorar para pensar em outra coisa. Mas não adiantava. Bastava um pouco de silêncio e tédio para as letrinhas voltarem a dançar dentro da minha cabeça. Peguei certa birra da palavra parede. Ela nunca fez sentido pra mim. Eu batia nela e perguntava "por que você se chama parede?" e logo em seguida ria ironicamente pensando, você não fala, por que estou falando com você?
De repente, achei engraçado querer que a parede soubesse o porquê do seu nome. Eu mesma não sabia por que me chamava Betina.
Mãe, por que meu nome é Betina?
Porque significa "promessa de Deus".
Ué, como assim?
Vem do hebraico. E o significado é esse.
Porque significa "promessa de Deus".
Ué, como assim?
Vem do hebraico. E o significado é esse.
Foi aí que comecei a entender a origem das palavras e aquilo era mágico pra mim. Mais tarde fui entender o que era prefixo, radical e sufixo. Nossa! As palavras eram realmente encantadoras.
Cresci e me assumi uma grande amante das palavras. Difícil não precisava ser difícil se podia ser complexo. Beleza não precisava ser beleza se podia ser venustidade. Então passei a buscar pelos sinônimos mais bonitos de todas as palavras que eu conhecia.
Textos e mais textos. Como era bom escrever por escrever. Até que um dia percebi que não escrevia apenas por prazer, escrevia por necessidade.
Quando o buraco aqui dentro me consumia, eu escrevia na tentativa de preencher.
Quando as coisas aqui dentro me afogavam, eu escrevia para transbordar os acúmulos.
Escrever era alívio. Era salvação. Era liberdade.
Escrevia para matar e imortalizar, e foi assustador perceber que imortalizei certas mortes.
Escrever tem esses paradoxos. Escrever é magia pura. É preciso ter cuidado com o poder das palavras.
Cresci odiando paredes. Essa palavra ainda não faz sentido pra mim. Eu não consigo gostar daquilo que não sente. Tudo que não tem sentimentos, não faz sentido pra mim. Porque, pra mim, sentido sempre foi fruto de alguma conjugação do verbo sentir e nada mais.
Paredes dividem. E eu odeio separações e matemática. A criança que eu fui (e que ainda mora aqui dentro de mim) estava certa em não confiar nas paredes. E hoje sei responder a sua pergunta insistente. Por que parede se chama parede e não chão?
Se parede fosse chão, seria caminho e não empecilho. Seria continuidade e não limitação. Seria liberdade e não prisão.
Cresci e me assumi uma grande amante das palavras. Difícil não precisava ser difícil se podia ser complexo. Beleza não precisava ser beleza se podia ser venustidade. Então passei a buscar pelos sinônimos mais bonitos de todas as palavras que eu conhecia.
Textos e mais textos. Como era bom escrever por escrever. Até que um dia percebi que não escrevia apenas por prazer, escrevia por necessidade.
Quando o buraco aqui dentro me consumia, eu escrevia na tentativa de preencher.
Quando as coisas aqui dentro me afogavam, eu escrevia para transbordar os acúmulos.
Escrever era alívio. Era salvação. Era liberdade.
Escrevia para matar e imortalizar, e foi assustador perceber que imortalizei certas mortes.
Escrever tem esses paradoxos. Escrever é magia pura. É preciso ter cuidado com o poder das palavras.
Cresci odiando paredes. Essa palavra ainda não faz sentido pra mim. Eu não consigo gostar daquilo que não sente. Tudo que não tem sentimentos, não faz sentido pra mim. Porque, pra mim, sentido sempre foi fruto de alguma conjugação do verbo sentir e nada mais.
Paredes dividem. E eu odeio separações e matemática. A criança que eu fui (e que ainda mora aqui dentro de mim) estava certa em não confiar nas paredes. E hoje sei responder a sua pergunta insistente. Por que parede se chama parede e não chão?
Se parede fosse chão, seria caminho e não empecilho. Seria continuidade e não limitação. Seria liberdade e não prisão.
Continuo não gostando de paredes. Mas aprendi que é possível fazer essa palavra provar do próprio veneno. Aprendi que posso construir uma parede entre as silabas das palavras e formar outras. Pa|rede pode ser rede a me balançar pelos ares ou a me lançar na imensidão do mar.
Hoje não sou construtora de palavras. Sou demolidora de silabas. Transformo amar|gor em amar. Lament|ação em ação. Lou|cura em cura. E assim me tornei uma sobrevivente de mim mesma salva pelas letras. E nada desperta em mim o medo de viver - porque sei que as páginas sempre irão me socorrer.
Hoje não sou construtora de palavras. Sou demolidora de silabas. Transformo amar|gor em amar. Lament|ação em ação. Lou|cura em cura. E assim me tornei uma sobrevivente de mim mesma salva pelas letras. E nada desperta em mim o medo de viver - porque sei que as páginas sempre irão me socorrer.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
Amei, amém – Por Betina Pilch
Então você se foi e restou apenas o seu embora e o seu porém que nunca me convenceram, apesar de me vencer.
Prometi a mim mesma que esqueceria todas as vezes que você, com sentimentos e ações, me aqueceu. Mas esquecer não me aquecia e ao me aquecer era impossível ser uma pessoa esquecida. E entre me enlouquecer com as lembranças e morrer de frio, eu preferia ser uma enlouquecida aquecida com seus beijos e carícias guardados aqui, sob esse edredom de memórias póstumas de uma alma cadavérica que se partiu ao ver você partir.
Partidas são essas partes de nós que resolvem ir. Perdas são essas pedras que a vida joga na gente. Vazio é esse buraco que era cheio, mas o que tinha dentro vazou. E tudo gera impacto e faz da gente um cacto aguado de lágrimas.
O amor gerado se foi. O desamor gelado ficou. E com a minha teimosia tentei não morrer de hipotermia amorosa. E, através da prosa entre mim e o meu eu, resolvi forjar nosso amor novamente. A mente ajudou a criar. O coração ajudou a sentir. Eu fui ficando sem ar. E precisei me despedir.
Disse adeus, amor que dói. E Deus pegou a dor, levou pro céu e deixou o amor pra me aconchegar. Então me amei, sem (ir) embora e sem porém. Me amei como quem ama pela primeira vez. E apaixonada preenchi meus nadas com amores e amém. Amores pelas cores da minha alma que resolveram refletir em tudo que eu resolvia olhar. Amém para todas as preces em que implorei para amar sem me machucar.
E você se foi. E eu fiquei.
Livrei-me de todo mal, me amei e disse amém.
Moço, por que você não morre? – Por Betina Pilch
Moço, vem cá, me diz uma coisa... Por que você não morre?
Morre dentro do meu coração, dentro da minha mente, dentro da minha alma. Hein, moço?
Por favor, vê se morre dentro de mim. Morre nas minhas lembranças. Porque se você não morrer, você vai continuar me matando e eu não estou mais suportando lidar com tantas sepulturas. É difícil ter que velar o próprio eu. Não quero mais esse luto, essa eterna luta, esse teu relutar.
Dessa vez é melhor você morrer, moço. Sei que você vive tentando suicídio em mim e eu sempre te salvo. Não queria perder você. Mas toda vez que eu te salvo, você me apunhala pelas costas e me mata. Pega suas palavras e me enforca. Me asfixia com a tua indiferença. Arranca a minha cabeça fora com o teu desprezo. Então, por questão de segurança, você precisa morrer.
Morre, moço. Morre pra sempre e leva essa tua descrença contigo pro abismo dos que não voltam mais e não volte mesmo. Não ouse me assombrar. Não tente acreditar na vida depois que morrer. Por favor, moço. Deixe sua alma morta como sempre esteve. Não é justo você tentar encontrar a vida depois de tanto fugir dela. Então, se joga nos braços da morte e durma o sono eterno do silêncio e do vazio.
Morre, moço. Morre dentro de mim. Vai morrendo aos poucos, pra eu ir me acostumando com a sua ausência. Morre, vai morrendo devagarinho, até eu esquecer que você vivia aqui dentro de mim. Morre, moço. Pode morrer. Morre bem morrido pra quando eu for procurar o cadáver do meu amor eu encontrá-lo em cinzas.
Morre, moço. Morre agora. Morre já! Não quero ter que lidar com a culpa de ter que te matar.
Morre, moço. Morre logo. Por favor, chega de me maltratar.
Vê se morre, moço... Ou esteja preparado para me enterrar.
Morre dentro do meu coração, dentro da minha mente, dentro da minha alma. Hein, moço?
Por favor, vê se morre dentro de mim. Morre nas minhas lembranças. Porque se você não morrer, você vai continuar me matando e eu não estou mais suportando lidar com tantas sepulturas. É difícil ter que velar o próprio eu. Não quero mais esse luto, essa eterna luta, esse teu relutar.
Dessa vez é melhor você morrer, moço. Sei que você vive tentando suicídio em mim e eu sempre te salvo. Não queria perder você. Mas toda vez que eu te salvo, você me apunhala pelas costas e me mata. Pega suas palavras e me enforca. Me asfixia com a tua indiferença. Arranca a minha cabeça fora com o teu desprezo. Então, por questão de segurança, você precisa morrer.
Morre, moço. Morre pra sempre e leva essa tua descrença contigo pro abismo dos que não voltam mais e não volte mesmo. Não ouse me assombrar. Não tente acreditar na vida depois que morrer. Por favor, moço. Deixe sua alma morta como sempre esteve. Não é justo você tentar encontrar a vida depois de tanto fugir dela. Então, se joga nos braços da morte e durma o sono eterno do silêncio e do vazio.
Morre, moço. Morre dentro de mim. Vai morrendo aos poucos, pra eu ir me acostumando com a sua ausência. Morre, vai morrendo devagarinho, até eu esquecer que você vivia aqui dentro de mim. Morre, moço. Pode morrer. Morre bem morrido pra quando eu for procurar o cadáver do meu amor eu encontrá-lo em cinzas.
Morre, moço. Morre agora. Morre já! Não quero ter que lidar com a culpa de ter que te matar.
Morre, moço. Morre logo. Por favor, chega de me maltratar.
Vê se morre, moço... Ou esteja preparado para me enterrar.
domingo, 7 de fevereiro de 2016
Era uma vez, não é mais – Por Betina Pilch
Era uma vez, assim, no passado mesmo, bem clichê. Porque apesar do felizes para sempre na última página dos contos de fadas, nenhuma felicidade é presente eternamente e - às vezes - mal chega ao futuro.
Abra a página final. Perceba, "viveram". Isso quer dizer que não vivem mais. Passou. Acabou. Assim como todas as histórias de amor - que muitas vezes não se permitem nem ser estórias.
E que bom que as páginas viram e nós caminhamos. Todos os contos de fadas são tão angustiantes. O príncipe tem que salvar a princesa. E coitado desse cara que tem que dar conta da salvação. Tem que ter ação. Ser são. E pra que tanta sanidade?
Fada do céu! Você e todo mundo que me conhece sabe o quanto eu lutei, esperneei e fiz birra com a minha sina. Eu sou teimosa, tinhosa, orgulhosa e não queria uma história qualquer pra mim. Meu castelo sofria cada atentado que só os deuses sabem, mas eu nunca me prostrei diante dos destroços, sempre reergui e reconstruí tudo novamente.
É difícil não conseguir desistir. Existir. Ir.
Mas em meio a solidão de um castelo de sonhos distante da realidade, apareceu ele. Não, nada disso. Sem cavalo branco, espada ou bainha. Só ele, capaz de fazer rir. Ele - aconchego em meio ao caos. Ele - o próprio caos. Ele - solidão, ironia, pessimismo, vazio. Ele, porto seguro. Ele, alto mar.
Se apresentou como Bobo. Me chamou de Dama. Loucura. Cura. Socorro! Quem sou eu? Quem é você? Dúvidas. Vidas. Idas. E ele se escondeu.
Cadê você? Procurei. Não achei. Chorei. Orei. Ó, rei! Por que? Volta aqui! E ele voltou. Me girou. E pelo amor dos deuses, moço! Para de me revirar. Virar. Irar.
Prometeu de dedinho nunca mais me abandonar.
Baita correria. E a gente ria. Até que quando olhei, o sorrir virou só ir. E ele foi indo, até não ser mais quem era.
Entre uma cambalhota e outra que demos de mãos dadas eu percebi que ele só queria brincar. E eu não queria cirandar. Talvez só andar. Não sei. Estava cansada demais. Ai.
Ele ficou, mas me partiu quando desistiu e nem sequer me comunicou que o nosso amor acabou antes mesmo de começar. Me esqueceu. Enlouqueceu. E sua loucura começou a machucar ao invés de curar.
Cansei. Eu sei, já disse isso outra vez. Mas meu bem, veja bem, você que não soube permanecer. Nem ser.
Era uma vez. Não é mais. Vivemos felizes. O para sempre ficou lá atrás. Talvez não tenhamos sorte nessa vida. Quem sabe tenhamos na morte.
Mas é bom segurar a mão de alguém bem forte, porque essa Dama aqui cansou de ver como príncipe encantado quem só se prestava a ser bobo da corte.
E assim me despedi e fechei o livro - sem avisá-lo que era o
FIM.
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