Era quase meia noite quando eu precisei ir,
mas ainda era cedo quando decidi ficar.
Era anos oitenta quando você chegou
e não fazia sentido eu estar lá.
Você sorriu sem me olhar nos olhos,
eu estava atenta ao seu olhar.
Naquela noite em que eu nem nascera
você me deu o primeiro abraço,
e eu que achava meu coração de aço
senti que sangrava vitalidade mais uma vez.
E por isso voltei ao mesmo lugar
duas noites depois para encontrar
a vida que se perdera nas noites em que não dormi.
Mas, desperta naquela noite,
te reconheci
de vidas passadas
onde ainda não morri
onde ainda não morremos.
Sobrevivemos
ao tempo.
Habitamos
novamente esse espaço.
E em meio a tantos caos e cacos
sangramos sorrisos inteiros
porque só sangra e sorri quem vive.
Porque sorriso é uma cicatriz feliz
aberta na face de quem ainda acredita
apesar de tudo.
Acreditamos.
E por acreditar,
Vivemos.
Mesmo verbo.
Dois tempos verbais.
Dois sujeitos.
Passado.
Presente.
Eu.
Você.
Nós
Entrelaçados
num relógio que conta as horas errado.
Era quase meia noite quando precisei ir,
mas ainda era cedo quando decidi ficar.
Olhei nos teus olhos
Te vi me olhar
E após um beijo
virei as costas,
mas todos os dias escolho voltar -
e ficar
e ficar
e ficar
mais um dia
mais uma noite
mais uma vez.
Afinal,
era uma vez
dois sujeitos
uma história
uma narrativa.
Que agora apenas
tecem realidades
tragam memórias
bebem prazeres
suspiram sentimentos.
E nessa introdução real
se perguntam:
É dessa vez?
Era quase meia noite quando precisei ir.
Mas ainda é cedo pra eu pensar no fim.
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