segunda-feira, 10 de novembro de 2014

(V)ida – Por Betina Pilch

(pode ser lido ao som de "A Thousand Years" - 

Há alguém aí? Por favor... Alguém pode me ouvir?
Minhas lágrimas também possuem voz. Será que alguém por aí consegue interpretá-las?
Está doendo tanto... Será que alguém sabe como fazer parar de doer?

"Socorro! Alguém me ajude!" É tudo que consigo sussurrar em meio aos soluços, tremores e espasmos da minha alma cansada de lutar para se manter viva. Mas não há alguém. Nem nunca haverá. Ninguém aparece para responder a minha prece. Estou sozinha. Com medo. Apavorada... E despedaçada também. Minhas asas foram cortadas, já não consigo mais voar. Meu coração está quebrado, inibido de amar. 

Para onde mandam as pessoas que já não servem pra mais nada? Deve haver algum lugar para o qual fui destinada, porque até agora nunca me senti em casa. Talvez eu não pertença a lugar nenhum... Mas, então por que me jogaram nesse mundo sabendo que eu iria ficar perdida, me sentindo um imenso nada?

Perdida, partida, ferida. Onde tem ida sempre dói.  
Tem sido difícil, quase impossível viver. Até a vida tem ida, deve ser por isso que ela é tão dolorida. Não é a toa que viver rima com sofrer.

Quão alto eu preciso gritar para que ouçam meu apelo e me tirem daqui? Minha alma já não brada o bastante? O mundo está surdo ou indiferente a minha dor?
Já não cabem mais cicatrizes em mim, então, por favor, eu imploro, me carreguem para o fim. Eu só quero que isso acabe. É pedir demais?

Já não há mais cor em minha face, porque as lágrimas apagaram qualquer vestígio do que foi pintado aqui um dia. Só me resta minha eterna palidez cadavérica que me remete a morte todas as vezes que encaro o espelho e sou obrigada a lembrar quem eu sou: um amontoado de tudo aquilo que se transmutou em nada.

Não aguento mais. Estou esgotada. E a cada arcada da vida para a marcha fúnebre ser tocada eu me sinto aniquilada e não há orquestra que consiga fazer um concerto em mim.

A verdade é que já morri faz tempo e não haverá ressurreição. Fiz do meu eu um eterno caixão de sentimentos mortos e me enterrei no triste velório que vida armou pra mim. E agora os fantasmas daquilo que eu já fui um dia olham para a menina que se foi e choram, porque nunca houve despedida e, mesmo assim, a partida aconteceu.
Enfim eu percebo que não há mais volta para quem deu as costas para vida, porque o oposto dela é a morte e quem se vira para fugir das feridas, na verdade, já morreu.
                                                                                            

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Angústia lapidada – Por Betina Pilch


Há tantas palavras que evito escrever. Tantos sentimentos que tento esconder. Mas, existem momentos na vida em que é necessário se livrar dos acúmulos, ainda mais quando eles machucam.
É tão difícil escrever sobre algo que não sei explicar... Eu acabo me perdendo em nós embaraçados que se desatados podem fazer o pêndulo que bate aqui dentro do meu peito se espatifar no chão.
As memórias que você plantou aqui germinaram em forma de botões que ocasionam giros mentais e eu estou ficando completamente tonta de tanto rodear nossas lembranças.
Você me fez compreender que meu coração precisa de confusão pra bater. Então, por favor, entenda que te preciso, assim mesmo, indeciso pra transformar o que é conciso em infinito.
De partida já basta minh'alma rachada por se debater contra o meu corpo na esperança de conseguir se libertar. Então, querido, não se vá.
Você não está indo embora, porque nunca chegou de verdade. Mas está se afastando, deixando aqui apenas fantasias distantes da realidade.
O pêndulo está por um fio para não arrebentar e, caso ele caia, meu coração nunca mais vai voltar a compor melodias e, não importa quantos dias passem, ele não voltará a amar.
Então continue perto de mim. Mesmo obstante, não arrebente aquilo que aviva cada instante meu. Não me jogue num breu com ecos de adeus...
Ah..
Oh, não! Por que eu fui lamentar esse pesar com um suspiro?
Meu peito subiu e o pêndulo caiu.
Sim, o pêndulo se soltou e abraçou esse chão que, de tão liso, me fez escorregar em meus próprios sentimentos quebrados.
Caí em cima do sofrimento e os cacos me perfuraram inteira. A angústia, então, começou no estômago, subiu pro peito, ficou presa na garganta e, por fim, se instalou em meus olhos que, agora, se encontram cansados e desesperados por não conseguirem cegar as imagens insuportáveis e doloridas da verdade, nem mesmo quando se escondem sob a escuridão de pálpebras fechadas.
Está tudo aqui, sob meu corpo.
Tudo que escondi dentro do pêndulo que se jogava de um lado pro outro fazendo o som das batidas do meu coração, agora, se encontra aqui, feito cacos no chão. Oh não...
Em mim só há vontade de chorar, gritar até o corpo esmorecer.
Sou refém de mim mesma e não sei se me livro ou me mato após me render.
Quão escuro era o que eu camuflava com falsas camadas de luz aqui dentro de mim. Quantos fins eu fingi que não vi. Quantas ilusões inventei para fugir.
Engulo meu choro e caio no sono a espera de acordar sem essas imagens em minha mente tentando me assombrar. Porém, não há mais despertar para quem cometeu o desastre de quebrar a fonte que fazia o seu eu sentir. E junto com os cadáveres mudos dos sentimentos que já gritaram um dia, me velo arrependida no sepulcro da vida.
Você permanece inteiro, bem perto do meu enterro de mim. E eu pasma percebo que você nunca foi meu começo, que eu nunca dependi de ninguém para me dar um fim.
Me criei, desenvolvi e finalizei. Inventei minhas fugas e a lugar nenhum me destinei.

Hoje eu me encontro aqui, enterrada em mim. E você permanece aí, como sempre, livre de tudo, inclusive de si.
                                                                                                    

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

(Vag)ando sem rumo


As mechas de luz solar dançam lá fora e deixam rastros aqui dentro de mim. O cheiro de grama cortada exalando no ar me transporta para um tempo que me faz bem e que eu tampouco sei se realmente vivi.
A trilha sonora que escolhi para esse momento deixa meu coração inquieto e, diante de tudo isso, eu sinto uma alegria angustiante que acelera meu coração, balança minha mente, estica meus lábios e pesa em meus olhos.
Sinto que esses detalhes me levam pra perto de mim. Me lembram de um eu que conheço bem, mas não reconheço como parte da minha vida.

Então, o que sou? Onde foi que me perdi? Se é que me perdi... Talvez eu nunca tenha encontrado o sentido, de fato. E pior, talvez eu nunca tenha sentido...
Balanço minha cabeça negativamente tentando espantar essas indagações e conclusões hipotéticas que me torturam, mas elas apenas se espalham se tornando ainda mais confusas.

A alegria, de repente, se apaga. Acende o medo. Cresce a dor.
Eu costumava dizer que minha mente era cinza devido as lembranças que se apagaram e que meu coração era colorido, porque as cores do amor nunca desbotavam. Mas a verdade é que meu coração só possui o vermelho escarlate do sangue que bombeia e o arco-íris ridículo cheio de cores que não ornam é pintado por minha mente que insiste em fantasiar o azul gélido inerente a minha alma - eu tampouco posso ser cinza, porque nunca conheci a dor de ser incendiada por uma chama.

O azul gélido, de súbito, começa a derreter, espalhando gotículas por minha face perdida em uma expressão de horror ao se deparar com seu reflexo descrito nas palavras que vê sendo construídas bem a sua frente.

Céus! Preferia que só o seu azul fizesse parte dessa aquarela esquizofrênica da minha vida. E quem me dera meu arco-íris fosse tão real quanto o seu... Mas a minha imensidão não passa de uma ilusão fajuta que agora sofre uma metamorfose horrível que eu preferia não ter que encarar.

Olho para dentro de mim e vejo apenas amores de papel rasgados pela realidade que nunca soube escrever.
Eu nunca amei com o coração, talvez eu nem saiba para que serve esse órgão que pulsa dentro de mim. Sempre inventei os sentimentos com a razão criativa que foi-me dada. E, com dor na alma, agora escrevo sobre as outras tantas palavras que já escrevi. Porque eu cansei de ser assim, tão teórica. Romancista de palavras quentes e coração frio.
Cansei da ausência de cores no meu mundo real. Cansei dessa traição a poesia que sempre me foi tão leal. Cansei, cansei, cansei...
E agora caminho por essa estrada, deixando para trás meu livro cheio de nada, a espera de encontrar nessa caminhada algo que me ensine a viver pela primeira vez.
                                                                                                                   - Betina Pilch.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Das breves poesias da vida – Por Betina Pilch


Certa tarde, dessas cheias de luz, eu vi a poesia voar, carregada por pássaros e  
borboletas azuis. Seu voo era conduzido por melodias cheias de rimas e as mensagens repletas de sinas faziam eu me sentir andaluz.

Meu coração, que era feito alabastro, foi marcado por rastros de um amor.
Um sentimento diferente, um pouco incoerente, que de forma inerente se entrelaçou com a cor... que voou por ali. 

Colibri... Era o pássaro que marcava o compasso da literatura cheia de ternura que por ali dançou. E de dentro pra fora, sem pretensão de hora, o meu eu de mim desabrochou.
                                                                                  

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pro-lixo – Por Betina Pilch

As primeiras horas da manhã anunciavam um colorido dilucular que malaxava todo e qualquer coração. Cada cor narrava o paroxismo dos amores perenes, cada flor adornava o jardim dos sentimentos solenes e a vida incitava o mundo a recitar poesia em cada minudência, causando instantes de ardência na alma que acolhesse os poemas que a natureza ousava recitar.

(Acalento em meio ao tormento pesar do pensar. Distração que entibiava a constrição da alma causada pelas chamas de uma paixão em ascensão).

Mas, em minha pérfida lucidez, vazios anidridos faziam morada. E a poesia, quase calada, sussurrava para o nada que gritava, tentando melodiar os brados ensurdecedores que orquestravam dores desafinadas. Em meio a essa vazia sinfonia, presenciei a mortificação incauta do sentido da vida. E, destarte, entre uma lacuna e outra fui sendo aniquilada pelo nada que inundava os poros da minha existência frívola.

O que é a vida se não essas mortes disfarçadas de ínfimas anestesias?                                           
O que é a morte se não a queda das esdrúxulas máscaras que usamos para camuflar a pútrida caveira que somos?                                                                                                                            
(Só sei que não sei nada sobre tudo, porque estou sob um nada ofuscada pelo escuro).

Desfaleci sob as tênues linhas do viver e sobreviver.                                                                           
Cobri a vida ao invés de ser coberta por ela, vivi com cortinas sobre janelas abertas. Fiquei enclausurada pelas ciladas que eu mesma criei. Até deixei cinza o laranjado astro rei.               
As mechas bruxuleantes da vida hesitaram em se apagar, mas na involução da chama à faísca, as labaredas do encanto resolveram se ocultar.

(Prolixei a vida e pro lixo irei, pintei tudo de cinza e com as cinzas me batizarei).

Me acorde quando setembro findar, porque a primavera acabou de chegar, mas as cores desbotaram dentro de mim. E já não há recomeço, nem meio ou belo desfecho diante do fim que escolhi esculpir aqui.
                                                                                                      

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Despertar – Por Betina Pilch

Foi numa daquelas manhãs nada propícias à vida que eu acordei. Mas não foi um acordar de abrir os olhos, foi um acordar de abrir a alma e enxergar o mundo que, durante tanto tempo, eu ocultei.
Acho que todo mundo, vez ou outra, se perde nesse labirinto que é a vida. Mas ao acordar eu percebi que cabia só a mim escolher se queria ficar parada, perdida, ou continuar caminhando até encontrar a saída. Então eu resolvi levantar, caminhar, viver... Porque ficar inerte nada mais é do que uma maneira de enterrar os caminhos que nos são dados para não sermos obrigados a caminhar por eles - e eu estava completamente disposta a desenterrar e conhecer esses caminhos dessa vez.
Coloquei aquela música em inglês que eu nunca li a tradução, porque o importante era que eu gostava da batida, e ri ao perceber que algumas coisas não precisam ser descobertas completamente para serem apreciadas. A música não estava em sincronia comigo, ela tinha uma batida alegre, porém pausada, e meu coração estava completamente acelerado e eufórico. Não, a música não tinha nada a ver comigo, ainda bem. Porque quando uma música veste bem em alguém quer dizer que a vida não está muito fácil. Então eu resolvi descomplicar tudo e comecei a cantar a tal música de um jeito totalmente errado e ri do meu inglês fajuto inventado. Comecei a pular e desafinar e melodiar a vida que estava silenciosa há dias, abri a porta do meu quarto e saí saltitando pelo corredor. Parei diante da porta da cozinha e com um andar totalmente confiante caminhei até a garagem e, por fim, até o portão. 
A manhã estava cinza e fria, dessas que sussurram pedindo para ficarmos na cama até o sol resolver dar sinal de vida. Mas eu calei a manhã, abracei os sinais de morte cinza e gritei que iria colorir o mundo com a aquarela que descobri dentro de mim. 
Saí rindo totalmente sem rumo e pouco me importando com isso - porque ficar sem direção quando estamos presos é horrível, mas ficar sem direção quando somos livres é a melhor sensação. 
A vida é feitas de escolhas. Alguns escolhem viver, outros morrer ou apenas sobreviver. Eu escolhi viver, porque finalmente enxerguei que a vida é viva - de tanto me prender nas estrelinhas esqueci de perceber o óbvio. Descobri que cobrir a vida com detalhes mórbidos é um ato de covardia, porque morrer é tão fácil, mas viver, ah! Viver sim exige de nós muita coragem.
Caminhamos nesse meio-fio-do-mundo-nosso, entre linhas tênues bambas que nos fazem temer e tremer, mas percebi que olhar para o chão não é a melhor visão a se encarar. Há uma imensidão acima de mim e finalmente descobri que posso alcançá-la - basta eu abrir minhas asas e libertar meus pés dos grilhões que eu mesma criei.
Então saí por aí, por ali, acolá, cá e me perdi na minha própria liberdade. E não estou preocupada, porque agora sou livre para encontrar muitas saídas, entradas, janelas abertas, portas trancadas, e abraçar a vida que eu tanto ignorei. 
                                                                                                           

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Uma taça de vinho tingida de solidão – Por Betina Pilch


Resolvi tirar a madrugada de saudade. Saudade de você, saudade daquilo que nunca existiu, saudade de nós que nunca atamos. Então ouço aquela música que sempre me leva pra perto da gente que vive tão longe e tinjo meus lábios de roxo com um vinho tinto que me embriaga levemente.
Você está no quarto ao lado e eu permaneço aqui na calçada da sua solidão a espera de que você abra a porta para eu entrar. Espera frustrada. Você permanece aí e eu aqui, ambos bailando abraçados com a solidão que nos entorpece e nos domina por inteiro.
Você dança tão silenciosamente que mal consigo te ouvir. Sempre tão sutil e discreto - penso enquanto encho minha taça pela segunda vez. E então faço da solidão uma piada e começo a rir ironicamente, porque infelizmente ela não tem a mínima graça. 
Saboreio mais alguns goles dessa tinta roxa e penso que sua boca quente combina bem mais com os meus lábios do que essa taça de vidro fria. Meu batom manchando sua boca seria muito melhor do que esse roxo pintando meus lábios, mas infelizmente são as cores que nos escolhem e não nós que escolhemos as cores. 
Então fortifico a única cor que foi-me dada em meio a essa madrugada fria e na terceira taça de vinho a solidão não só dança comigo como também canta em meus ouvidos uma melodia tão triste que me obriga a chorar - e o meu vinho que era seco, agora é molhado pelas lágrimas que suavemente escorrem pela minha face antes maquiada pra você. 
Lentamente observo tudo se esvaziar: a garrafa de vinho, minha taça e minha alma agora derramada sobre tudo aquilo que esvaziei. Então olho para o fundo da taça levemente tingida de roxo, semelhante aos meus lábios, e suspiro ao encontrar o vazio ali dentro me esperando - me esvaziei dos vazios e eles continuam transbordando. Então bebo essa solidão que agora está desafinada demais para continuar cantando em meus ouvidos e, a goles sôfregos, dou um fim nela. Me sinto completamente embriagada - e ainda assim ciente de que no dia seguinte a ressaca será eterna. Porque no fim estou sempre só - só comigo. Sozinha. Sem você.
                                                                                                        

sábado, 19 de julho de 2014

Sonhos no frio de um inverno – Por Betina Pilch


"Por favor, não me deixe ir, porque, se eu for, temo nunca mais voltar." - eu dizia desesperadamente olhando em seus olhos que transbordavam medo.
Era noite de lua cheia, uma noite incrivelmente clara e estávamos em um lugar sombrio indecifrável. Você segurava uma vela vermelha enquanto muitos incensos eram acesos e no meio desse cenário eu me sentia completamente perdida e fraca. Enquanto eu aparentava fragilidade, você agia com bravura, estava destemido, como se tudo aquilo fosse natural. Mas quando minhas energias foram sugadas e eu estava prestes a cair, sua postura mudou completamente. Eu pronunciava aquelas palavras em tom de súplica e via seu olhar sendo tomado pelo sentimento de impotência, era como se você não pudesse me livrar do que estava acontecendo - talvez eu estivesse sendo condenada por mim mesma e nesse caso só eu poderia me salvar, não sei. O fato é que eu sentia a morte me atraindo para perto dela e seu rosto, de repente, nada mais era do que um doce borrão. Eu já estava me entregando às sombras que dilaceravam a luz quando, de súbito, senti um sopro de vida me resgatar - era você me abraçando fortemente pela cintura e sussurrando em meu ouvido que não ia me deixar. Nunca deixaria - você enfatizou por três vezes consecutivas. E, incrivelmente, isso não me surpreendeu. Era como se eu já soubesse que isso ia acontecer. Dentro de mim eu possuía a certeza de que você me resgataria dos braços da escuridão e faria eu retornar à luz que sempre pertenci.
Vida e morte. Luz e trevas. Coragem e medo. 
Você iluminou minha vida e corajosamente me livrou da condenação. Consigo lembrar nitidamente de como você me fez sentir segura enquanto sustentava toda a minha fraqueza em seu corpo forte e trêmulo e, mesmo fraca, tudo que eu queria era te deixar ciente da minha gratidão.
Eu estava completamente debilitada quando você me deitou sobre um banco de madeira e acomodou minhas pernas em seu colo. Você olhava para mim com seus olhos cheios de preocupação e me dava um sorriso cheio de tranquilidade - e esse foi o momento em que mais amei suas contradições. Mesmo sem proferir nenhuma palavra, eu sabia que você estava ali para cuidar de mim e, como se estivesse lendo meus pensamentos, você ousou dizer "para sempre".
Sua aura não estava mais cinza, encoberta por nuvens e névoa que me impediam de te decifrar. Sua aura estava verde, forte, se atrevendo a mostrar sua completude em meio a toda essa confusão.
E então eu acordei. Acordei com meu coração repleto de paz, porque, de certa forma, nossas almas se encontraram essa noite. E você me salvou. Me salvou de mim mesma e dos meus vazios mais uma vez.
                                                                                                           

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Carta aos cuidados da chuva – Por Betina Pilch


Querido Sam, 
Está chovendo lá fora e eu me pergunto como você está. É provável que você esteja sendo um dos você apropriado para o momento, afinal você tem uma máscara certa para cada ocasião. Ou talvez você não esteja preocupado com isso e, nesse momento, só haja um Sam perdido em seus próprios devaneios, imerso em sua aura cinza que vive nublada para que ninguém consiga enxergar o que realmente há nela. 
Ah, menino mistério, você me confunde tanto...
Estou escrevendo essa carta, porque assim como você se esconde atrás das máscaras, eu me escondo por trás das palavras e nas entrelinhas vou me despejando. Ambos temos nossa maneira de fugir da vida, talvez. Mas o fato é que tenho esperanças de que um dia essas palavras cheguem até você e finalmente eu me livre desse segredo que me tortura há mais de um ano, porque está cada vez mais insuportável esconder o que eu sinto.
Meu coração é feito de fragmentos que tentam se juntar para transformar toda essa fração em um número inteiro e, apesar de toda essa matemática, ele jura que é poesia. Não sei como é possível acreditar em algo que venha do meio de toda essa confusão, mas meu coração jura que te ama. Talvez ele esteja embriagado de paixão e por isso fica bradando essas coisas malucas no compasso de cada pulsar, mas o fato é que ele não me deixa esquecer o que sente. Aí toda vez que eu olho pra você eu lembro dele dizendo que te ama e que você é o único que pode ajudar ele a se restaurar de vez. Sim, eu já disse pra ele parar com essa besteira - você não deveria depositar em alguém essa responsabilidade que na verdade é sua - eu vivo dizendo, mas ele não me ouve e, pra piorar a situação, começa a gritar seu nome igual um doido. 
Não sei por que diabos ele escolheu você, justo você que é tão complicado, justo você que é tão impossível. Mas ele escolheu e não há céu nem inferno que o faça mudar de ideia.
Confesso que houve um tempo em que eu fazia tudo que meu coração pedia, mas depois de tantas quedas a gente começa a ter mais cautela na hora do impulso e hoje eu prefiro não saltar mais rumo a ilusão nenhuma. Então vivemos essa eterna descomunhão: eu sendo razão e meu coração sendo coração mesmo. 
Meu coração diz uma coisa, eu finjo que acredito em outra só por teimosia. Ele grita o seu nome, eu começo a cantar a música que você mostrou pra mim só pra não ouvir o que ele está dizendo. Meu coração começa a cantar a música que sempre imaginei você cantando no nosso casamento e eu na maior cara de pau digo que isso é impossível - mesmo sabendo que o impossível nunca teve vez na minha vida.
Enfim, a verdade é que eu discuto com o meu coração só pra ter a ilusão de que ele não me governa, mas no fundo eu sei que ele é o meu guia, e talvez seja por isso que vivo desnorteada. O fato é que concordo com ele, estou prostrada diante de tanto amor e não sei mais o que fazer.
Então me responda Sam, o que eu faço com esse sentimento? 
Eu já tentei de tudo. Já tentei ignorar ele pra ver se ele se suicidava. Já fingi que ele não existia até eu acreditar na minha própria mentira. Já tentei não alimentá-lo até que ele, enfim, morresse. Mas quando eu vi, você já tinha alimentado ele com sorrisos, com batatas e panquecas e sei lá onde foi parar o sentido de tudo isso. 
É, nada disso faz sentido. Na verdade, nunca fez sentido algum e é por isso que eu nunca soube qual é o nosso destino, porque talvez não haja destino nenhum. Acho que não vamos para lugar algum, porque estamos perdidos - perdidos em nossa própria confusão. E quem sabe, no meio dessa bagunça toda, a gente acabe se encontrando e se ajeite de vez.
                                                                                                

domingo, 13 de julho de 2014

(C)or-do-sol – Por Betina Pilch

Aquele seu riso exibido de erro percebido me fez sorrir deliciosamente. Você tem esse dom de me encantar, enquanto canta com a aquela pose de moço sedutor e olhar envolvente. Mas eu realmente gosto quando sua pose despenca e o que resta é aquele simples menino oculto em sua essência. A complexidade transforma a brisa em vendaval, a garoa em tempestade, a calmaria em tormento. Já a simplicidade torna tudo mais leve e suave. Então, quando você errou aquela simples nota e sorriu, eu queria aplaudir seu riso em pé, porque – de fato – sua alma sendo exposta através daquela expressão risonha tinha sido a melhor parte do seu show teatral. E tudo isso justo naquela noite!
Aquela noite que chegou após uma tarde linda e cheia de melancolia. É, eu tenho essa mania de misturar todos os tipos de sentimentos em um único dia. Mas aquele dia… Ah! Era um daqueles dias em que não namorar o céu parecia um tremendo absurdo. Meus olhos beijavam cada cor celeste e me faziam sentir a delícia de degustar aquelas cores que devastavam o cinza. Admirando a imensidão, eu via o sol rasgando e queimando o horizonte, para dizer adeus à tarde e dar lugar à noite.
Ah! O Sol… Sempre tão humilde, eu pensava comigo. E, enquanto ouvia o adeus, meus olhos, que antes beijavam o céu, agora – taciturnos – olhavam pro sol, porque sabiam que os sabores das cores iriam se pôr junto à luz ofuscante. As cores estavam indo embora e eu, na minha ignorância, achava que a poesia também, mas logo fui beijada por um milhão de rimas. Caiu a noite e a pose dele despencou. Isso me fez pensar em como algumas quedas podem ser incrivelmente bonitas. Eu, que vivo caindo em pranto, despencando dos sonhos, levando tombos, nunca tinha percebido a beleza de uma queda. Justo eu, que coleciono garoas, cascatas e cachoeiras de lágrimas, nunca havia notado que toda queda ou gera sentimentos ou é gerada por eles – e eu nunca gostei de cair. Nunca gostei do roxo que as quedas deixavam.
Ah! As cores que me perdoem. Eu reclamava do cinza e, quando era colorida com tons de roxo, ficava brava. Quando as cores eram obrigadas a se pôr com o sol, eu me entristecia. Ah, menina indecisa! Mas o fato é que as cores do céu no final da tarde eram minha anestesia. Meu artifício inventado para fugir da vida. E, toda vez que o sol ia embora e levava consigo sua caixinha de lápis de cor, eu olhava para mim e lembrava que eu não passava de um contorno em preto e branco. E, quando a noite caiu e eu vi que ele sorriu, descobri nele o arco-íris que sempre almejei – e apenas desejei que, um dia, quem sabe – num final de tarde –, ele refletisse em mim.
                                                                                       
(Texto publicado originalmente no blog Retratos da Alma:

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Reminiscência – Por Betina Pilch


Quando eu era pequena gostava de ficar em silêncio para prestar atenção nas batidas do meu coração. Eu imaginava que meu coração era um quarto com um cubinho dentro que ficava batendo nas paredes. Naquela época eu não imaginava nenhum hóspede dentro dele. Pra falar a verdade, nas minhas imaginações de criança, o tal quarto era cinza e vazio, talvez suas janelas refletissem um dia nublado e por isso a iluminação que eu via era tão sombria, mas o fato é que aquele cômodo que eu chamava de coração só tinha um cubinho que ficava se debatendo nas paredes - e eu sentia cada impacto no meu peito em um compasso regular.
Hoje eu resolvi ir até esse quarto, fiquei olhando pra ele um bom tempo e senti medo. Se eu tivesse que passar o resto da minha vida num lugar como aquele eu não suportaria.
Senti saudade de mim - acho que sou minha maior falta.
Quando eu era criança não tinha medo daquele quarto, meu sonho era conseguir sentar naquele cubinho enquanto ele se jogava de um lado pro outro. Eu não tinha medo da solidão. Eu era minha melhor companhia. Mas hoje, por mais louca que eu seja, não acho que mereço uma solitária - eu não me suportaria. É, é isso. Aquele quarto parecia uma solitária e, talvez, isso explique todas as esquizofrenias do meu coração.
Nunca entendi o que eu sinto, até porque nunca achei certo transformar os sentimentos em conceitos a serem explicados. Prefiro viver sentindo do que viver com sentido e talvez seja por isso que sempre vivi perdida num mar de confusão. 
Às vezes eu me enchia de nada e logo transbordava os vazios para me livrar dos ecos da solidão. Mas quando tentava me preencher novamente me perdia num labirinto de dúvidas que me deixava sem direção.
Sempre evitei ficar vazia, porque meu coração não gosta de ficar sozinho e tem medo do escuro, por isso ele vive buscando por sentimentos que possam colorir e iluminar tudo aquilo que escurece e acinzenta. Meu coração sempre foi um grande artista. Quando não encontrava cores, ele mesmo pintava as suas paredes com as fantasias que criava - e aí ele era pintor. Quando não encontrava iluminação, ele imaginava a luz e dessa luz sempre nascia poesia - e aí ele era poeta. Quando ele precisava de provas concretas de que algum momento de felicidade existiu, ele vasculhava o passado até achar - e aí ele era um arqueólogo de sentimentos. E nessas buscas incansáveis por luzes e cores e sentimentos ele encontrou você - e aí ele se tornou um grande astrônomo. Porque eu tenho certeza que ele te buscou no céu e trouxe pra mim.
E agora que te encontrei, retorno àquele quarto que imaginava quando era criança e dentro do cubinho que bate contra a parede eu vejo você. Te vejo com toda a luz que você nem imagina que tem e me ilumino por inteiro.
E toda essa luz me faz lembrar das suas fases lunáticas, do seu anoitecer sombrio, dos seus cacos que ferem, da sua mente perdida, e da sua complexidade que sempre se dissolve num sorriso. E então sorrio, porque o menino que você é, de certa forma, acaba de se encontrar com a menininha que eu fui.
Talvez você desperte o que tenho de melhor em mim e a menininha feliz que eu fui um dia resolveu acordar e mexer nas minhas memórias mais bonitas até eu notá-las, porque sabia que nessas memórias eu te encontraria.
E após escrever tudo isso me sinto anestesiada. Não sinto meu corpo direito, talvez ele tenha silenciado pra deixar a alma falar.
Toda vez que mergulho em mim, me afogo - me afogo na imensidão de sentimentos que você gerou em mim e desejo te inundar.
Meu coração de menina encontrou o menino que você esconde dentro de si e eles resolveram se afogar. Só espero que você ouça os gritos deles logo e resolva transbordar para, enfim, me encontrar.
                                                                                                            

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Colo(rir) (d)a vida

O outono foi embora. 
O inverno já chegou.
As lágrimas já secaram e o sofrimento esfriou. 
Aqui dentro de mim o amor resolveu ensolarar 
e o meu coração esquenta a cada pulsar.


As estações sempre foram minha metáfora preferida, porque por mais que elas mudem, não são passageiras. Sabemos que o ciclo sempre se repetirá e cada estação voltará. 
Meu coração é assim: feito de estações. E não, não estou me referindo ao Verão, Outono, Inverno e Primavera. Estou falando da Paixão, do Desânimo, da Angústia e da Esperança. Essas são as minhas estações. 
A paixão me ilumina e deixa meus dias repletos de sonhos que aquecem a alma, quando essa estação chega ao fim convivo com o desânimo que surge diante das impossibilidades que fazem cada sentimento secar dentro de mim e, após o desânimo, o que resta dessa eterna menina que sou são apenas as minhas securas e os tons amarelados da vida. 
Seca e amarela: sintomas da solidão. E diante da frieza da solidão me deparo com o sofrimento... Sofrimento que congela tudo aquilo que secou. Mas por fim o gelo derrete regando meu túmulo de sentimentos mortos e eu sinto a esperança florescer. Com os galhos da vida cheios de esperança eu volto a acreditar que aquela luz quente do despertar da paixão voltará e sigo vivendo minhas estações que mudam, mas sempre se repetem. 
É, sempre foi assim. Ou melhor, era assim - até eu me apaixonar por você. 
De fato você me fez viver um ciclo completo dessas estações, mas quando a esperança floresceu, antecedendo a volta da paixão, algo mudou. A estação seguinte estava realmente ensolarada, minha alma estava verdadeiramente aquecida, mas as fantasias e ilusões que caracterizavam a paixão não haviam chegado. No lugar delas estavam a realidade e a doçura da vida, porque a paixão não ia retornar - ela preferiu virar Amor. 
E quando o Amor chega as outras estações se curvam diante dele e se transformam também. O desânimo se transforma em determinação, o sofrimento vira felicidade, as cores se misturam e se transformam em outras cores... A única estação que não muda é a Esperança, porque ela sempre floresce para vivificar o Amor.
O amor enfim chegou pra me fazer te enxergar sem lentes de aumento diante das suas qualidades e sem miopia diante dos seus defeitos. Nessa estação tudo fica tão claro que não é preciso lentes - o coração enxerga a verdade sem nada embaçado. E a verdade é que te amo mesmo quebrado e não temo me cortar. A verdade é que recolho os seus cacos e sonho com o dia que você irá se restaurar. 
Te amo com toda a verdade que existe no mundo. Te amo desse jeito maluco que não se contenta em respirar o mesmo ar que você, porque me faz querer te inspirar pra dentro de mim até eu e você sermos um só. E o encanto de amar é isso: a relação entre o desejo e a conquista interligados por uma espera que silencia.
Ta amo desse jeito estranho que me faz ter vontade de piscar os olhos quando olho pra você pra ver se você interpreta meu sinal. Porque todas as palavras que eu quero dizer estão emudecidas aqui dentro de mim e por quererem gritar me sufocam. E então quando digo que sinto vontade, na verdade já estou me imaginando fazendo exatamente o que eu disse. 
Te amo e esse amor me faz desejar seu sorriso e nesse desejo encontro o meu próprio riso que desabrocha ao imaginar o seu. Te quero pra mim e nesse querer descubro que já sou sua antes mesmo de você querer ser meu.
O amor é esse que me coloca cara a cara com a verdade e mesmo diante das impossibilidades não desanima - permanece sendo o amor vivificado pela esperança. Porque o impossível não abala o amor. Afinal, o impossível é o Deus dos pessimistas e nessa religião o amor é ateu. 
Ao contrário do que pensam os poetas, o amor não é Deus de si mesmo. O amor acredita na esperança e sabe que sem ela, ele não é nada. O amor presta cultos à Esperança e vive para acreditar que na espera há sim muitas chegadas. 
Então eu te amo.
E eu vou te amando assim: cheia de esperanças e descrente no impossível. Vivendo sem agir com a certeza de que um dia cada ação imaginada irá se concretizar. Afinal o amor é concreto e não abstrato. É feito de uma realidade a espera de um sonho. É feito de um alguém e de outro. É a ligação do meu coração ao seu mesmo cheio de interferências. É aquela história que só termina com reticências.
O meu amor é você, seu é o meu coração - e em você deposito toda a minha esperança para a próxima estação.
                                                                                                       - Betina Pilch.

sábado, 3 de maio de 2014

Desaber

Eu já não sei de mais nada. O saber se perdeu em meio as minhas confusões desde que você apareceu.
E desculpa, mas eu realmente não sei falar dos meus sentimentos sem ser piegas, sem ser extremamente chata, cheia de mimimi e melosa até acabar o doce que existe dentro de mim.
Sempre sonhei com alguém sensível, compreensivo, elegante, sedutor. Amante das palavras, da poesia, das rimas, dos sentimentos, do amor. Sempre sonhei com alguém assim: nada a ver com o que você é. E percebo que desde que você chegou meu coração resolveu ser rebelde e ir contra todos os sonhos que a minha mente havia criado. Você veio para me desestruturar, para demolir minhas idealizações e construir em cima dos destroços uma realidade palpável que eu não conseguiria imaginar se não estivesse convivendo diariamente com você. 
É, eu me apaixonei por um pseudo-ogro - e se você fosse metade do que o Shrek é já seria ótimo, mas não. Você tenta ser um homem das cavernas, sentimentalismo é "baitolice", minhas frases são vomitáveis e a cada julgamento besta seu sobre as coisas eu tenho vontade de quebrar essa máscara que você carrega e libertar esse príncipe que você tenta aprisionar dentro de você. Mas já era! Eu descobri tudo. Eu te desvendei. Eu te conheço, você sabe bem.
Sei do valor que você dá às palavras e justamente por isso não diz "eu te amo" - você enaltece tanto o amor que não se acha capaz de amar. 
Sei do par de alianças de namoro dos seus pais que você guarda à espera da menina certa para colocar no dedo anelar. 
Sei que você é mais sentimental que eu - você já me deixou conhecer seus momentos de melancolia.
Sei da sua paixão pela natureza, pelas árvores, pela vida.
Sei que você é o menino mais homem que já conheci. 
Sei que você é romântico, paciente, carinhoso mesmo que tente fingir.
E eu que já não sabia de mais nada, de repente, sei tantas coisas...
Ah cara, eu queria escrever o que sinto por você de uma forma que você não lesse e pensasse: "nossa, estou com vontade de vomitar." Mas eu te conheço bem o bastante pra saber que você se quer leria isso até o final se não soubesse que é pra você.
Queria que soubesse que te odeio, te odeio com todo o meu amor, porque você me deu tudo que eu precisava, mas está tirando de mim aquilo que eu mais dava valor. Já não consigo escrever como eu escrevia, a poesia evapora a cada dia, porque ao invés de idealizar o que eu sinto eu vivo: vivo sentindo o novo sentido que você traçou pra mim. 
                                                                                                                     - Betina Pilch.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Estação instável – Por Betina Pilch

Então acordei naquela primeira manhã de outono e sorri um sorriso triste. Senti uma tristeza que sorria. Uma felicidade deprimida. Uma depressão eufórica. Uma euforia mórbida. Uma morbidez vívida.
Fechei os olhos, enchi meus pulmões de ar e dentro de mim, então, só existia aquele oxigênio inspirado. 
Vasculhei minha caixinha de sonhos e percebi que eles estavam secos como as folhas das árvores que caíam. Talvez fosse culpa da estação ou talvez tenha sido culpa desse meu coração asmático e árido. Não sei. Na verdade o não saber era só o que restava em minha mente.
Uma lágrima escorreu da minha alma e meu coração gemeu. Meu ser então suspirou e pro céu olhou. As nuvens escuras estavam chorando comigo e nesse momento derramaram uma gota de tinta cinza em meus olhos, desde então eu só enxergava um mundo acinzentado.
Curitiba era cinza. São Paulo era cinza. A Suíça era cinza. Até o Rio de Janeiro, de repente, acinzentou. E os amores já não tinham nenhuma cor. Aquela pequena gota de tinta fez da minha vida um imenso degradê de cinza. 
O (arpoa)dor agora tinha a ver com a dor de um passado distante que jamais seria presente novamente.
Aquela música do Passenger já não me levava a sonho nenhum, mas era como aquele desperta-dor que me acordava justo quando eu não queria viver. 
Curitiba estava mais cinza do que o normal e estava tão torturante quanto seus ônibus às 6h da manhã. 
São Paulo continuava distante, mas agora já não existia esperança de aproximação.
E meu coração, que já transbordou e bordou o amor, apenas esvaziava um nada que matava e bordava uma dor que apagava qualquer cor que quisesse aparecer. 
Olhei para frente e em meio ao cinza e sépia do outono um vento soprou bem perto de mim. Soprou e sussurrou que assim como ele o outono também iria embora. Que viria mais uma estação para esfriar os ferimentos ardentes do meu coração e depois dela viria aquela que todos chamam de Primavera. 
A amante das cores, das flores, dos amores traria o sol do Arpoador novamente. A melodia apaixonante da música do Passenger. Traria vida para Curitiba. Ressuscitaria os sonhos paulistas. 
Então diante dessa pequena esperança eu pisquei. Aquela tinta cinza ainda estava encalacrada no meu olhar, mas lembrei que meu sorriso ainda era branco e de repente sorri, porque eu sabia que a Primavera viria e coloriria tudo de novo.
Mas no momento só o que me restava era a lembrança dessas memórias mórbidas que pouco a pouco evaporavam. E só a solidão é presença enquanto os sonhos se ausentam e ficam longe de mim.
                                                                                                         

segunda-feira, 17 de março de 2014

Vultos ocultos dentro de mim – Por Betina Pilch


A música toca e inevitavelmente você vem em minha mente com aquele seu jeito evolvente e perversamente inocente.
Fecho meus olhos e te encontro sem hora marcada, sem data estipulada nem nada, porque você sempre gostou de chegar sem avisar. E de repente já é tarde demais pra guiar meu pensar, meu coração dilata e quase me mata por querer sair do meu peito e beijar cada pulsar que salta de dentro de você.
A gente fala de lágrimas com um riso sarcástico no rosto e a contragosto assumimos que nos parecemos mais do que deveríamos nos parecer. 
Você me abraça, me enlaça e no espaço de seus braços tudo que era pedaço torna-se inteiro.
Enlouqueço e quase me esqueço que nossa proximidade está cercada de impossibilidades e que nesse momento em meu peito você não passa de um forasteiro passageiro que só chegou para me bagunçar e despertar uns desses sentimentos que não nascem pra vingar.
Permaneço colada em teu corpo e sofro por não poder permanecer assim. A gente se demora, mas sei que a qualquer hora você vai embora e eu degustarei o fim.
Silenciamos diante do nosso desânimo e ficamos parados escutando nossa respiração acelerar. Sabemos que não nascemos pra felicidade, somos cheios de complexidade, que tudo que passa é brisa leve e não vento forte capaz de nos fazer voar.
Meus pés pesam no chão e no meu coração sinto uma voz gritar dizendo que não quer te largar e pedindo pra você me a(ni)mar.
Você me a(ni)ma e me mima, fala que sou sua menina e promete que nunca vai me deixar. Eu calo sua boca com um beijo, digo que promessas costumam falhar. Salgo minha face com lágrimas e de repente meus olhos começam se abrir. Retorno a realidade e mesmo sem querer me obrigo a te ver partir.
                                                                                                          

sábado, 15 de março de 2014

Me mate, só não acabe com a minha vida – Por Betina Pilch


Eu não sei o que está acontecendo comigo, até porque nunca me entendi. Quem me explicava era sempre você. No entanto, nesse momento, me explicar seria explicar você mesmo e nesse caso quem sempre te entendeu fui eu. 
Percebo que quanto mais me des-vendo, mais te encontro. E me revelando descubro que os segredos eram apenas alguns embaraços causados por nós que eu atei sem você saber.
(Trans)bordo palavras e me afogo em sentimentos (bor)dados pra você. Então te sufoco com o meu sentimentalismo e foco onde está tudo desfocado. Você tosse e se engasga enquanto bebe minhas loucuras a goles sôfregos tentando respirar sem pirar diante de tanta (ins)piração sem nexo. 
Sua loucura sempre se pareceu com a minha, mas talvez eu tenha ultrapassado os limites e não nos parecemos mais. Talvez minha loucura já não seja agradável ao seu paladar. Talvez eu lhe cause náuseas. Talvez você vomite. Talvez você queira me amar(rar) em uma camisa de força enquanto lhe peço encarecidamente que seja o meu psiquiatra. "Não fuja de mim diante da minha loucura!" - grito enquanto você me observa. Eu rio diante de tanta insanidade e pareço ainda mais louca. Então você ri também. É, a gente sorri. Só ri. Porque o que nos resta é isso: só (r)ir. 
Peço que me entenda, não me deixe e me ignore o máximo de vezes possível também. Não faço sentido, vivo sentindo e grito insistindo pra que me mande calar a boca e voltar ao normal. Calo a boca e percebo que normal eu nunca fui. Então continuo sendo louca. Louca por você. 
Você não entende nada e pensa: "Não sei lidar. Não sei lhe dar." e, lendo seus pensamentos, eu respondo: "Não lide, não ligue, não me dê nada."
Porque o que (não) temos me basta e é pelo que (não) temos que morro de amor. Só não fuja de mim, mesmo que eu mesma fuja de mim às vezes.
Uma vida morrendo é uma vida. Uma vida sem morte, é apenas uma morte camuflada. Prefiro morrer de amor do que viver sem amar - então espero que você continue me (m)atando.

                                                                                                                                    

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Não sei titular e isso já é um título


Eu não queria refletir, mas só o fato de eu não querer entrar em reflexão já é refletir sobre algo que não quero e se não quero algo já é um querer que algo não aconteça.
Eu não queria me perder, mas já estou perdida e só o fato de eu saber estar perdida já é uma forma de me encontrar. E eu me encontro e me perco em mim mesma, e ao me perder dentro de mim mesma já não encontro mais nada.
Eu me conheço bem o bastante para saber que não conheço nada sobre mim e o fato de saber o que não sei me inquieta e me atormenta.
Evitei o silêncio, porque meus silêncios sempre foram gritantes demais e esse emudecer estridente sempre me ensurdeceu. Só escuto o som de um nada cheio de vazios que fazem minha mente girar sem sair do lugar. Tenho vivido esse eterno permanecer sem nunca estar.
Céus! Para onde vou?
Já não sei o que sou, nem onde estou, tampouco o que farei a partir daqui. Apenas imploro a Deus que me guie, porque eu já não tenho nenhum sentido e não sei para onde ir. 
                                                                                                                                          - Betina Pilch.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Enfim, completa

Sempre fui sonhadora, do tipo que inspira romantismo e expira esperança. Que perde o sono, porque não é preciso dormir para sonhar.
Sempre tive os sonhos como meus melhores amigos e eles nunca me abandonaram. Muitas vezes desisti de sonhar, mas felizmente os sonhos nunca desistiram de mim.
Há quem diga que quem sonha demais acaba se frustrando, e é verdade. Muitas vezes tive a decepção e frustração como companhia. Muitas vezes me afoguei em lágrimas por achar que meu destino era negligente e esquecia de me dar um pouco de felicidade, porque para mim tal sentimento sempre estava em falta.
Mal eu sabia que o meu destino se importava muito comigo, a ponto de achar que eu não merecia metades, que eu não merecia doses homeopáticas de felicidade. Ele preferiu guardar cada dose até ter certeza que eram suficientes para curar todas as minhas enfermidades. Então finalmente o destino resolveu me dopar, me fez tomar tantas doses de felicidade que a cura foi instantânea.
Há quem diga que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem, quão pobres são tais pessoas.
O “Era uma vez” pode sim transformar-se em um “É dessa vez!”. A história pode sim virar um conto de fadas. E o “felizes para sempre” pode sim ser distante o bastante para a história ser escrita de forma tão bela e detalhada que possa futuramente ser lida como a Bíblia do Amor.
Histórias não são contos fadas pela capacidade dos personagens serem príncipes e princesas. Contos de fadas têm a ver com a capacidade dos personagens terem coragem o suficiente para rejeitarem o papel de coadjuvante, para enfim terem acesso ao enredo dos protagonistas. Está na capacidade dos personagens viverem a história intensamente e aceitarem Deus como escritor.
Achamos que nunca viveremos uma fantasia cinderelesca, mas de repente a vida samba em nossa cara e ri nos dando o livro embrulhado para presente. Quando lemos nosso nome escrito no livro nem acreditamos, achamos que logo o despertador irá tocar nos acordando do sonho. Mas aí a gente acorda e vê que dormimos abraçados com o livro e quando abrimos nosso livro nosso nome ainda está escrito lá. E então sorrimos, sorrimos porque pela primeira vez a vida sorri pra gente.
Sim, a vida é engraçada e gosta de nos torturar um pouquinho. Nos dá provas de fogo só para ter certeza se somos merecedores do que ela, com muito carinho, nos reserva.
Sim, o mundo pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos. E hoje o mundo me pertence, eu consigo abraça-lo, porque finalmente sou completa. Meus braços já não são curtos demais, porque a vida com muito amor me tornou infinita.
                                                                                                           - Betina Pilch.

Te guardei nos raios de sol

Ao acordar ela abriu as cortinas que escureciam o seu quarto e através do vidro da janela ela viu o Sol surgir por entre a neblina que embaçava todo o seu horizonte de visão. Logo tudo estaria claro, nítido e o dia ficaria lindo, mas as sombras do passado ainda habitavam sua mente deixando rastros de escuridão.
Ela ignorou as sombras e manteve seus olhos focados no presente. Encheu o pulmão de ar e suspirou balançando a cabeça de olhos fechados "Hoje não será um dia nostálgico, só hoje eu não quero sentir saudades." - Pensou ela.
Pegou o seu livro de cabeceira e apertou contra o peito, como se as palavras ali escritas fossem penetrar seu coração. "A ficção de um romance detalhado é a única coisa capaz de me manter longe da tristeza e hoje eu preciso de doses de felicidade, mesmo que utópicas." - Refletiu.
Mas as sombras começaram a se engrandecer, cresciam tão rapidamente que nem mesmo a leitura de seu romance favorito foi capaz de iluminar todo aquele cinza que habitava a sua mente. "Uma mente cinza cheia de lembranças e um coração colorido cheio de amor." - Ela riu da ironia.
O Sol entrava janela adentro iluminando toda a dimensão de seu aconchego, mas sua mente era à prova de claridade e nitidez.
O Sol, pensava ela, lembrava os olhos iluminados dele. O frio daquela manhã sendo aos poucos extinto pelos raios da estrela maior lembrava seu coração no dia em que ela havia visto ele pela primeira vez.
Sua boca de repente trouxe aos ventos aquela verdade: "Ele trouxe calor para esse deserto gelado e hoje vivo com essa seca em meu coração rachado."
Todas as lembranças cresciam, cresciam tanto que já não eram mais lembranças dentro dela, e sim ela dentro das lembranças. E de repente todo o sentimento foi exposto em seu rosto a contragosto através das lágrimas.
O dia ficaria lindo, mas não ficou. O Sol ia raiar por horas, mas não raiou. Não havia previsão de chuva, mas a tempestade despencou. Pelo menos em seu interior foi isso que ela presenciou.
Era três de Junho de 2013, "Dois anos, três meses e cinco dias" - Ela lembrou. "O relógio nunca pareceu tão vivo, lembro tão nitidamente da primeira vez que ele me beijou." - Ela lembrava tão nitidamente que quase conseguia sentir-se beijada novamente.
Ela olhou o relógio: meio-dia. O Sol estava em seu auge e tudo que ela desejava era que os raios penetrassem seu coração aquecendo-o, nem que só por alguns minutos. Aquele buraco frio que ela carregava em seu peito ainda doía e a falta que o amor vívido fazia era tão fria que às vezes ela pensava que ia morrer de hipotermia.
Lembranças vívidas de um passado mórbido era tudo que ela possuía, e a saudade que ela sentia dele era o único tom de cinza em seu dia. "Acontece que às vezes esse tom de cinza é tão escuro que consegue camuflar todo o colorido da minha vida." - Lamentou.
Mas as suas artérias bombeavam romantismo e sua alma era vestida de esperanças, mesmo que isso a machucasse e torturasse um pouco às vezes, ela gostava de amar o seu primeiro amor. Ela amava com todas as suas forças e lutava para que nenhum detalhe daqueles dias coloridos que ela viveu ao lado dele morressem, e com o tempo as lembranças se tornaram imortais de tanto que ela relembrava.
Ela piscou os olhos, olhou pela janela novamente: 17h. O Sol já estava se escondendo e ela passou o resto dos minutos ali admirando aquele encanto que brilhava e aquecia sem precisar de ninguém. "Tão solitário, mas tão feliz... Ah sol, você também me lembra ele. Vou guardar em você cada lembrança que cultivo do meu garoto e toda vez que eu te olhar, estarei olhando pra ele também. Aqueça minhas lembranças, não as deixe morrer de frio, já faz um tempo que meu coração não sabe o que é ficar febril. Aqueça minhas lembranças, assim como o abraço dele me aquecia, mantenha minhas memórias vivas assim como ele me fazia sentir viva. Tão solitário, mas tão feliz... Assim também é o meu garoto, aquele que partiu meu coração e hoje habita cada cicatriz."
O Sol enfim se pôs levando consigo todas aquelas lembranças, mas ela sabia que no dia seguinte ao amanhecer cada lembrança retornaria, dessa vez menos frias, dessa vez menos mortas, porque ela encarregou o Sol de iluminar aquela sombra que há tempos ela carregava dentro de si.
                                                                                                         - Betina Pilch.

Insuficiência Poética

Olhei para o céu e busquei pelas estrelas: Elas haviam se escondido.
Olhei para o meu coração e busquei pelo amor: Ele havia desaparecido.
Tentei encontrar todo aquele grito silenciado: Ele já estava contido.
Tentei buscar inspirações nos meus infinitos clichês: Tudo havia sumido.
Abro e fecho meus olhos em busca de uma explicação, 
mas para o que sinto agora não existe definição.
Algumas rimas soltas e pobres ficam vagando sem rumo, sem saber onde se encaixar. 
Estou perdida junto com essas palavras, já não sei quais sentimentos irão me acompanhar.
Abri as grades do meu coração, libertei todo o amor que em mim vivia. 
Tudo voou para longe e fugiu-me a poesia.
                                                                                                              - Betina Pilch.

Coleciona(dor)a de cicatrizes

Ela queria transbordar sua dor em palavras, mas já não existiam palavras dentro dela e a falta da escrita era a pior de suas ausências.
As marcas estavam voltando a incomodar e novas feridas estavam começando a ser desenhadas. Era questão de tempo para todos os espacinhos dela serem preenchidos com a dor, nenhum cantinho sairia ileso. Ela sempre fora uma colecionadora de cicatrizes.
Dizem que tudo que é bom dura pouco, então ela estava esperando pelo fim desde o começo, mas ir embora era tão difícil. Ela nunca foi boa com pontos finais, sempre dava um jeitinho de transformar em reticências, mas ela já deveria saber que não é preciso escrever o ponto final para uma história ter um fim.
Ela nunca foi boa com máscaras, sempre teve tendência à transparência e por esse motivo não conseguia ignorar suas dores, precisava enfrenta-las. Mas ela estava tão cansada de lutar, ainda mais quando precisava ser uma guerreira sozinha. Ela lutava apenas para manter seu sorriso intacto, mas ele sempre se partia.
Por mais acostumada que estivesse com o Sol deveria estar preparada para a tempestade, porque ela sabia que era questão de tempo para o céu desmoronar novamente, e seu coração sempre foi influenciado pelo clima.
Seu interior esteve ensolarado por um bom tempo, mas o cinza sempre predominava e estava retornando mais uma vez. E quando as gotas de chuva começaram a escorrer do céu, as lágrimas resolveram deslizar por sua face também.
O sorriso dela se pôs junto com o Sol e a escuridão trouxe consigo aquela velha tristeza. Ela tinha perdido as cores do seu arco-íris mais uma vez e termia não encontrar lápis de cor suficientes para (re)colorir o seu céu novamente.
                                                                                                          - Betina Pilch.

Um terror chamado amor

Sempre caminhei sozinha na contramão da vida, percorrendo uma estrada cheia de utopias. Sempre sem direção certa, desgovernada em minhas andanças, porque sou feita de contradições e inconstâncias. 
Gosto de caminhar para frente, correndo rumo a uma estrada nova, mas vez ou outra preciso voltar para trás e resgatar alguns momentos na estrada da memória. 
E voltando eu me perco e me perdendo eu me encontro. São nos contrários de mim que mora o encanto. 
Não sou feita de medidas exatas, ainda não aprendi a me dosar. Sou muito, sou tudo, é tanto Eu que preciso me doar.
Uma louca desvairada que caminha calma e desesperada. Me encho de tudo, me encho de nada, e vou transbordando meus acúmulos e vazios no decorrer da estrada. 
São nas dúvidas que encontro minhas certezas. É através do cinza que começo a pintar um arco-íris. É na dor e na solidão que encontro o amor e a paixão. Uma explosão de contradição, é assim que pulsa o meu coração.
A menina que em mim habita nunca fez sentido, mas sempre foi mestre na arte de viver sentindo. Se na faculdade da vida ela só tivesse que amar, com certeza seria uma aluna exemplar. Mas, infelizmente, na matéria de fazer as coisas darem certo ela acabou de reprovar. 
Ela já foi muito corajosa, destemida, inquieta e se os sentimentos fossem esportes radicais ela seria uma grande atleta. Mas o amor é semelhante ao bungee jump e ela já sofreu alguns acidentes. Feriu seu coração e traumatizou a sua mente. 
A menina que caminhava sozinha na contramão da vida hoje caminha perdida, com medo, querendo mudar a direção, desejando percorrer uma estrada sem curvas e sem nenhuma frustração. A matéria de amar ela desistiu de estudar e de bungee jump ela não tem mais coragem de pular. 
É que a pobre menina bebeu doses de complexidade altas demais para uma só vida e os fardos da realidade lhe causaram muitas feridas. 
Hoje ela já não se arrisca sem temor, porque a menina tem mais medo do amor do que de filme de terror.
                                                                                                             - Betina Pilch.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre aquilo que não sei sobre mim


Você não sabe nada sobre nós, apesar de saber tudo sobre mim. 
Você não entende meus sentimentos, apesar de saber tudo que sinto e senti. 
Você não sabe nada, apesar de saber tudo. 
Talvez de tanto eu camuflar, meus sentimentos tenham ficado ocultos no escuro. 
Você ouviu tudo mesmo sem escutar uma só palavra. 
Você não conhece os inquilinos do meu coração, porque eu nunca quis te cobrar nada.
Te escrevi uma carta em segredo na esperança de abafar os gritos dos meus sentimentos quando lacrasse aquele envelope e guardasse no fundo daquela caixa. Mas eles gritam e pulam, nenhuma palavra naquela carta se encaixa. 
E nada permanece para sempre apesar de nada ir embora. 
E tudo fica em minha mente, apesar de tudo mudar a cada instante, a cada hora. 
E a sua voz talvez seja minha memória favorita. 
E você talvez seja mais do que uma linda poesia. 
Começo achar que você é aquele desenho confuso que eu fazia quando criança e aos olhos adultos parecia sem sentido. Aquele desenho que só eu entendia e guardava por achar lindo.
Você não sabe o que sei sobre nós atados num laço que jamais será desfeito. 
Você não sabe que a fita que enfeita o nosso presente é o que torna ele tão perfeito.
Você não sabe nada sobre você e eu sei tanto sobre ti. 
Você não sabe nada sobre nós e eu já não sei nada sobre mim.
                                                                                                                                - Betina Pilch.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Senti(n)do

"Estou tentando encontrar algum defeito em você." Eu respondi quando você me perguntou "O que foi?" após ficar constrangido com meu olhar fixo em você. E desde então tenho cada vez mais certeza de que você é perfeito.
Engraçado como você me dá um chão seguro quando me abraça, o céu quando me beija e as estrelas quando sorri. Você me dá tantas coisas, mas me tira as palavras e eu sempre achei que minhas palavras fossem o meu bem mais precioso, mas isso foi até eu te conhecer.
Você calou minhas palavras e me mostrou que a mais linda poesia se esconde no silêncio. A mais bela poesia não precisa ser recitada, ela é simplesmente sentida e eu tenho sentido tanto.
Dizem que as melhores coisas acontecem por acaso, mas você não foi um acaso, você foi o destino que eu sempre quis chegar. 
Você não me deu um conto de fadas, você me deu uma história real muito melhor que as dos livros. Dentre tantas histórias a nossa tem sido a mais bem escrita e me ler em você e te ler em mim tem sido a melhor coisa do mundo.
Não sei explicar o que sinto quando penso em você e sorrio. Sorrio, porque pela primeira vez eu não estou em busca de certezas. Sorrio, porque você é a minha certeza mais incerta e eu nunca gostei tanto de estar naufragada em um mar de contradições como agora.
E eu sinto e me perco em meio a tantos sentimentos. E nesses sentimentos eu te encontro e em você me perco mais uma vez. E enquanto estou perdida em você me abandono em seus braços e me perco mais ainda em seus beijos. Você fez eu me perder e me perdendo eu me encontrei.
Você já faz parte de mim, e se eu gosto de você e você faz parte de mim eu começo a gostar de mim mesma. Gosto de você pelo que você é, mas gosto principalmente do que eu sou quando estou com você.
E espero que você goste de ser gostado, porque não quero chamar isso de paixão ou amor. Todas as vezes que dei esses títulos aos meus sentimentos eles foram efêmeros e com você estou disposta a conhecer a veracidade.
Desculpa se me calo diante daquela frase composta por três palavras, mas foi você quem me emudeceu e me ensinou a apreciar os versos intensos de cada silenciar. Quando lhe dou meu silêncio estou lhe entregando todas as minhas rimas. Tento responder suas perguntas com meus beijos e quando minha boca se fecha é para deixar os olhos falarem. 
Tenho certeza de que isso é o começo de algo bom e sinceramente já não me importo como isso irá acabar. Eu já não sei o que fazer e prefiro nem saber. Os melhores momentos são aqueles que não são vestidos com expectativas. Tudo é melhor quando a gente para de se preocupar e aprende a viver sem pensar demais. Já não racionalizo o que sinto, porque finalmente aprendi que os sentimentos não são feitos de teorias.
Não me peça pra fazer sentido, estou ocupada demais sentindo. E o culpado é você, só você.
                                                                                                          - Betina Pilch.